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Clovis Acosta Fernandes morreu em 2015 após apoiar o Brasil em sete Copas
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Torcedor ficou conhecido no título de 2002 e na derrota na semifinal de 2014
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Filhos se esforçam para levar o legado do “Gaúcho da Copa” para o Qatar
Agora, dois dos filhos do Gaúcho da Copa se esforçam para manter vivo o legado do maior torcedor da Seleção. Em 2018, pela primeira vez sem o pai, Frank e Gustavo Damasceno Fernandes experimentaram um pouco do carinho que Clóvis despertou em fãs de futebol de diversos países. “A gente mal conseguiu caminhar, as pessoas vinham tirar fotos. Eu comecei a perguntar: ‘de onde você é?’ Pode escolher o país. Todos os países que você pode imaginar”, relata Frank Damasceno sobre uma experiência na Praça Vermelha de Moscou, durante a Copa de 2018. “Tenho uma carga emocional muito grande. Pouca gente ama a Seleção como a gente ama, como meu pai nos ensinou a amar, sem querer nada em troca. Quando a gente descobre que essa mensagem chegou no mundo inteiro, como a gente descobriu na Rússia, a gente se emociona”, completou Gustavo.
Uma tradição em família
Clóvis decidiu que deveria acompanhar a Seleção em Mundiais pouco antes do torneio de 1990, na Itália. A esposa morreu a loucura de última hora do marido, mas, como entusiasta da música, pediu que a casa da família em Porto Alegre ganhasse um piano, como forma de compensar. Acordo feito. Semanas depois, na volta da viagem, o Gaúcho da Copa avisou Frank, o filho mais velho, então com 10 anos: “aprende inglês, que na próxima você vai ser o meu intérprete”.
Era o começo de uma aventura em família. Com Frank a seu lado, Clóvis comemorou o título de 1994 em Pasadena, nos Estados Unidos. Os torcedores brasileiros tiveram o privilégio de ver bem de preto a disputa histórica por pênaltis, que terminou com um chute infeliz por parte dos adversários italianos. “A bola do Baggio passou por cima das nossas cabeças”, relembra Frank. Quatro anos depois, a trupe ganhou o reforço de Gustavo. A família rodou a França com um carro estilizado e amargou a derrota para o tempo de Zidane na decisão, num dia marcante para o filho estreante em Copas. “Eu estava chorando muito, tirando os adesivos do Brasil do nosso carro, porque meu pai temia a reação dos franceses mais empolgados. Aí surge do nada o Gilberto Gil, um ícone da música brasileira, bota a mão no meu ombro e diz: ‘não chore, não.
Ouro pelo pai no Rio de Janeiro
O choro de Clóvis abraçado em sua replica da taça da FIFA viralizou depois do 7 a 1 contra a Alemanha em 2014. No dia seguinte, o torcedor mal conseguiu viajar durante um passeio na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, com atração de fãs de futebol de vários países. Mas a despedida na relação com a Seleção veio no ano seguinte, em 2015, durante a Copa América do Chile. O Brasil foi eliminado precocemente, e Clóvis revelou em uma entrevista que estava enfrentando um câncer havia nove anos. O torcedor também previu à imprensa chilena que o país anfitrião seria campeão e acabou tratado com muita reverência em seu último torneio. Um momento inesquecível para os irmãos aconteceu durante os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Frank participou de toda a competição sozinho, mas combinou de encontrar o irmão mais novo na final entre Brasil e Alemanha, no Maracanã. Antes de encontrar o irmão no Rio, Gustavo passou na casa da mãe em Porto Alegre e teve a ideia de fazer uma homenagem ao pai. Fez a barba e deixou só o bigode, inspirado em Clóvis. Depois, decidiu usar o chapéu e a taça do pai. “Quando entrei na cozinha vestido assim, minha mãe chorou muito. Meu irmão também chorou copiosamente quando nos encontramos no aeroporto do Rio”, conta.
O Brasil acabou vencendo a Alemanha nos pênaltis e conquistou o ouro olímpico, o único título que Clóvis não testemunhou em vida. Reunidos no Maracanã, os filhos do Gaúcho da Copa receberam novamente o afeto da torcida. “As pessoas diziam: ‘vocês não podem parar, não podem deixar esse legado morrer’”, relata Frank.
Agora, o Catar
Depois das emoções da Rússia em 2018, os irmãos brasileiros agora se preparam para incentivar a Seleção no Qatar – e, também, manter vivo o legado do Gaúcho da Copa. Frank e Gustavo tem lutado para reunir verba para conseguirem viajar e manter o projeto de produção de conteúdo durante o Mundial deste ano. Desta forma, os filhos carregam com orgulho o estilo de vida de Clóvis e sua entrega ao torneio mais emblemático do futebol mundial. Frank cita uma frase criada pelo pai para explicar a devoção à competição da FIFA. “Ele dizia: o período entre uma Copa e outra foi o jeito que eu encontrei de envelhecer sem sentir.”