Quem vai pagar as flores do funeral do grande morto? Cabe indagar…
Como tudo sabes, um dilúvio avassalou Manaus nesta manhã, e arrastou todas as rústicas casas dos excluídos sociais, improvisadas às margens dos nossos igarapés, que serpenteiam a nossa cidade como pequenas calhas naturais, preparadas pela mãe natureza para receber as águas das intensas chuvas dos invernos amazônicos.
Não foi um sinal dos tempos, nem nada de apocalíptico, como querem insinuar os ecochatos. Foi apenas o grito da Natureza agredida.
Na natureza tudo é harmonia. Difícil é viver com ela. Explico: a morfologia do solo amazônico é formada por pequenos platôs, como se fossem muitos pires emborcados, servindo as linhas que os unem como calhas naturais aptas a receber, e levar até à grande calha central – o nosso rio-mar – as intensas e volumosas águas do inverno amazônico.
Mas o homem, o político demagogo, em frontal desrespeito à mãe natureza, fez vista grossa dessa natural realidade, estimulando a invasão das margens dos nossos igarapés pelos nossos excluídos sociais, como elemento de troca de votos.
Nada de licença ambiental!
Nada de cuidados especiais, por parte dos poderes públicos!
E veio o lixo doméstico!
E, logo depois vieram os fogões e colchões velhos, as sobras de obras, as garrafas plásticas, a entupir tudo. Tudo “jogado fora”, à beira dos igarapés, sem ninguém dizer àquelas pessoas que a força da gravidade da nossa nave Gaia não nos deixa “jogar nada fora”; no máximo, em frente à casa do vizinho, às beiras dos igarapés, às margens dos rios e dos nossos litorais marítimos.
Mas, tudo, qual um bumerangue, volta a nos atingir, com muita intensidade, sob a forma de poluição dos nossos mananciais, de epidemias, de desmoronamento de encostas e de arrastões d’água, como aconteceu hoje, aqui, em Manaus, não por conta de uma intensa, bela e sonora chuva amazônica; mas, sim, por conta de hipocrisias e de acumuladas omissões de gestores públicos.
Mas ninguém gosta que se fale assim, que se fale disto!
Até quando, esperança?
Quem vai pagar as flores do funeral do grande morto?
Cabe indagar…
DR. DIVALDO MARTINS COSTA
Mas. Assim.