Há muito tempo eu venho pensando em escrever um artigo sobre como tenho observado o comportamento dos católicos nas missas, como encaro as alterações indevidas na liturgia, de como percebo a incursão de padres de espetáculo e de como anda a trajetória da igreja ante os desafios políticos e ideológicos que se descortinam.
Católicos de IBGE é uma adjetivação que cola bem numa grande maioria de cristãos que se dizem seguir a religião de São Pedro porque apenas fazem parte das estatísticas ocupando bancos nas igrejas.
Essa gente não cumpre os mandamentos, não segue os sacramentos e não respeita os espaços e ritos dedicados aos cultos, celebrações e festividades inerentes à fé católica.
Frequento diferentes igrejas, capelas e santuários católicos aqui e em outras cidades inclusive em outros países.
Por isso, sou um observador mais que atento ao que se passa nas missas e em diversas outras celebrações e festividades e, de como padres, acólitos, coroinhas, ministros, diáconos e fiéis se comportam.
Passa de longe em mim o sentimento apenas de criticar por criticar.
Minha sincera intenção é jogar luz nesse tema a fim de que possamos melhor compreender o que acontece de equivocado ou errado nessas celebrações para que nos policiemos e prestemos corretamente um culto mais eloquente e edificante devotando a Deus, ao seu filho Jesus e aos nossos santos e santas aquilo que de melhor podemos dedicar como oferta de amor e sacrifício.
Hoje em dia a maioria dos padres não faz mais catequese durante a missa pois preferem celebrar com pressa, não têm coragem de corrigir os erros dos fiéis, não chamam atenção dos presentes para os maus comportamentos durante a celebração.
As homilias se transformaram apenas em pregação ou doutrinação ideológica.
O que há, isso sim, é um verdadeiro vazio de ensinamentos das coisas do alto durante as celebrações.
Até os paramentos usados por alguns sacerdotes, deixaram de ser sinônimo de austeridade e, o que se vê muitas vezes, é o abuso de símbolos e cores numa mistura ou fusão e sincretismo com outras seitas e cultos estranhos à sagrada liturgia católica.
São padres despreparados, descolados da doutrina da igreja e alguns apenas preocupados com a doutrinação social.
A sacralidade, a espiritualidade, o respeito ao culto passam longe na maioria das celebrações católicas.
A permissividade e a mistura do sagrado com o profano tomam conta dos espaços físicos destinados aos fiéis e, o presbitério, é palco de ritos e rituais completamente divorciados do que o missal e a liturgia sacrificial permitem.
O estopim para que eu criasse coragem e colocasse no papel o que me inquieta ante tudo isso, veio durante a celebração das festividades de São José, Patriarca da Igreja e pai das famílias no seu santuário em Manaus, cuja missa foi presidida pelo cardeal arcebispo.
No meio da consagração, o cardeal admoestou por duas vezes os fiéis a não rezarem com ele as orações que apenas ao celebrante compete que são: Por Cristo, com Cristo e em Cristo… e Livrai-nos de todos os males o Pai e dai-nos hoje a Vossa paz…
O que mais se vê por aí são padres até incentivando os presentes a entoarem com ele essas orações. Uma quase heresia!
Em seguida o celebrante pediu silêncio aos presentes e que não se cantasse e se tocasse tão alto como estava ocorrendo.
Aquelas atitudes do celebrante me chamaram a atenção.
Pela primeira vez o representante de Cristo na missa cobrava o que é correto dos fiéis.
A santa missa deve seguir um ritual previsto em normas ou cânones imutáveis escritos há séculos e aprovados em bulas papais e até em reuniões conciliares.
A nenhum celebrante é dado o direito de adaptar, alterar, renovar, trocar termos ou atos apenas porque lhe agrada ou satisfaz aos fiéis.
Missa é lugar de silêncio pois o que se celebra é a repetição do sacrifício Pascal de Jesus.
E o que mais se vê é uma verdadeira algazarra, um falatório infernal, um sentar e levantar constantes e o total desrespeito ao espaço sagrado do templo do Senhor. Misericórdia!
Pra começar, católicos que chegam à missa atrasados, atravessam os espaços, pedem passagem entre os presentes falando alto.
O que é pior, chegam depois do ato penitencial e ainda comungam. Quanto sacrilégio!
Os trajes com que se vai ao sacrifício da missa mais parece um desfile de modas e moda das mais extravagantes.
Madames de costas nuas, ombros à mostra e calças compridas apertadas denotando todos os volumes acumulados em cima e embaixo.
Homens de camiseta, de bermuda e sandálias de dedo parecendo que chegaram da praia.
O falatório ao celular é uma mixórdia pois as pessoas não se mancam que estão em ambiente espiritual e religioso.
Quando não, esquecem de acionar o modo silencioso e os celulares tocam e tocam ora em cima dos bancos ora dentro das bolsas das madames. Bolsas essas que tem lugar cativo nos bancos e nenhuma dessas fiéis se toca que tem gente em pé no fundo da igreja. Uma lástima!
Durante e depois da comunhão aí que vem um festival de papagaiadas.
Primeiro de tudo, a fila da comunhão parece mais uma passarela de desfile de modas. E é de fato!
Muitos fiéis recebem Jesus sacramentado na mão (o que já é um sacrilégio) e, quando deveriam voltar em total silêncio aos seus lugares, fazem trejeitos e gestos desnecessários diante do altar, ora fazendo genuflexões, ora traçando o sinal da cruz diante do padre ou diante do altar. Nada mais bizarro!
Quem já recebeu Jesus já está com ele no corpo, na alma e no coração portanto, não precisa de mais nada a não ser retornar ao seu lugar em silêncio, se ajoelhar, ficar em oração até que o celebrante retome os ritos da missa.
Nada mais agrada ao coração de Deus do que participar de uma santa missa em que se celebra o sacrifício Pascal do seu Filho e onde imperam o silêncio, a espiritualidade, a misericórdia e o respeito às coisas do alto.
Desafortunadamente, o que vemos hoje é a antítese de tudo isso.
Os sons da maioria das igrejas católicas é péssimo.
Nas missas, onde conjuntos musicais acompanham os cânticos, os jovens ou quem toca os instrumentos abusam do som alto como se a parafernália instrumental fosse mais importante que a celebração, que o ministro e até mesmo que o próprio Jesus sacramentado.
Até durante o cântico do Salmo responsorial o que mais se ouve é o órgão ou guitarra ou violão nas alturas tirando todo o brilho de quem canta versos tão eloquentes. Que horror!
Por hoje já chega, e espero que chovam críticas, sugestões e contribuições porque a sincera intenção é promover um debate sobre esse tema ao qual retornaremos semana que vem.
Té logo!
*Dr. Ronaldo Derzy Amazonas é farmacêutico-bioquímico e articulista do Blog do Hiel Levy.
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