Saúde pela hora da morte
Impossibilidade de atender pacientes que se avolumam; exames simples como de malária e dengue vetados, ausência de médicos e especialistas, clima de bombardeio. Parece uma descrição do hospital Al-Shifa, da Faixa de Gaza, mas é a Fundação de Medicina Tropical de Manaus – FMT-HVD, que já foi referência na América Latina em doenças tropicais e hoje está entregue às baratas. Um raio-X revela o descaso com a saúde e a incapacidade de propostas gerenciais para que o Tropical volte a ser orgulho dos amazonenses.
Pela importância do hospital, em casos de epidemia, como as que assolam a população de Manaus, área metropolitana e interior do estado, como a Virose da Mosca e as febres Mayaro e Oropouche, a tendência é correr para lá, mas os doentes são obrigados a recorrer aos SPAs, como o do Alvorada, que não possuem as condições necessárias para atender vítimas de moléstias tropicais.
Caso de polícia
Esta situação não é de hoje. De acordo com a Defensoria Pública do Estado – DPE-AM, a culpa é do Governo do Estado, que não repassa recursos para a FMT, desde o ano passado. Uma ação judicial por parte da DPE foi impetrada para que o Governo do Estado repasse o montante de R$ 9,4 milhões, que deveriam ter sido repassados até o final de dezembro de 2023, e não o foram.
Esse valor é referente a repasses orçamentários que o governo deixou de fazer no período de setembro a dezembro do ano passado. A direção do instituto informou, em 4 de dezembro, que os estoques de medicamentos só cobririam os atendimentos a serem feitos até o dia 9 do mesmo mês, o que significa que desde aquela data a FMT serve apenas como enfeite. A ação tramita na 3ª Vara da Fazenda Pública de Manaus.
SPA do Alvorada é pura enrolação
A falta de recursos não atinge somente a área técnica, mas também fornecedores e terceirizados, que estão sem receber salários e pagamentos de contratos. Mas estes não são somente os males enfrentados por quem procura os serviços da fundação. Falta tudo, desde uma simples agulha para coletar material até o aparelho para realizar um Hemograma, um exame básico quebrado faz seis meses, o atendimento médico deixa a desejar. Enquanto isso o número de pessoas acometidas e com fortes sintomas de virose se amontoam na sala e nos corredores do SPA a espera de um atendimento para aliviar suas dores e angústia de seus acompanhantes. Um terror.
“Doutor Peru” pra cavalo só falta o chifre
Pacientes reclamam de um médico peruano, que fica no computador conversando com amigos via whatsapp no Peru, enquanto os doentes tentam explicar para ele os sintomas. “Ele nem liga para a dor de ninguém e só receita dipirona injetável para uma moléstia que ele nem sabe do que se trata”, disse um paciente, que saiu de lá a procura de outro hospital. Segundo uma paciente que também estava ontem lá, o tal médico senta o doente a cerca de dois metros longe dele e só se levanta para receitar dipirona nas nádegas de quem necessita de outros medicamentos. “Pra tomar dipirona eu não preciso ir a um hospital. Até nos Terminais de Integração tem gente vendendo dipirona a retalho”, disse ela.
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Ameaça velada
Com essas epidemias chegando e essa falência no sistema de saúde, a população teme que aconteça em Manaus, a mesma coisa que aconteceu com a pandemia da Covid-19, que começou com uma simples epidemia e causou um verdadeiro estrago em todo o Amazonas. Falta pouco dr. Anoar.