Crianças continuam sendo ‘alugadas’ para pedir dinheiro nas ruas de Manaus
Uma cena que quase desapareceu do Centro de Manaus em decorrência da pandemia da Covid-19, voltou a fazer parte do cotidiano normal. Encontrar crianças pedindo dinheiro nas ruas, um antigo problema, vem se tornando cada vez mais comum. Só nos quatro últimos meses de 2023, a prefeitura recebeu 69 denúncias de crianças nos semáforos. Ao verificar as denúncias, as equipes de abordagem social identificaram 42 famílias, 72 crianças e 8 adolescentes nessa situação.
De acordo com o Conselho Tutelar, cada situação precisa ser analisada, e apesar de haver famílias em vulnerabilidade social, uma das coisas que mais preocupa é que muitas dessas crianças estão sendo exploradas pelos próprios pais, que “alugam” os filhos para a prática de pedir dinheiro nos semáforos.
O órgão tem abordado diariamente famílias em situações como essa, aplicando advertência por escrito. Os pais são notificados, e caso o ocorrido volte acontecer, podem responder judicialmente e perder a guarda dos filhos. Essa é uma tarefa que os novos conselheiros tutelares, que assumiram seus mandatos por decisão judicial, vão ter que arregaçar as mangas e enfrentar.
Aluguel de crianças
“Tem crianças sendo alugadas para essa prática, e isso já se torna um ato criminoso e não mais uma situação de vulnerabilidade. Há situações que é realmente a vulnerabilidade, mas a maioria delas é a exploração das crianças para mendicância”, comentou um comerciante do Centro comercial da cidade, que está acostumado a presenciar tal situação.
Casos como esses devem ser levados à delegacia, e a população pode ajudar a diminuir essa prática, inclusive não contribuindo financeiramente.
Mesmo com as ações para inibir esse tipo de crime, a cena se repete em vários pontos da cidade. As crianças se arriscam entre os carros até mesmo durante a noite, em ruas movimentadas, pedindo dinheiro, vendendo água ou sentadas na calçada durante todo o dia, horários em que deveriam estar estudando. A Secretaria da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc) é quem faz o trabalho de identificação das crianças e famílias, e encaminha para o Conselho Tutelar, órgão responsável pelo processo de proteção integral das crianças e adolescentes.
Imigrantes em Manaus
Com a chegada de muitos imigrantes da Venezuela, o número de pedintes nas ruas aumentou. No entanto, segundo o Conselho Tutelar, a quantidade de estrangeiros e brasileiros atualmente está equilibrada. A pandemia aumentou a dificuldade de famílias na extrema pobreza. A refugiada Ariane Herrera vende água em um semáforo de Manaus, com o marido e os três filhos do casal. Ela diz reconhecer o problema, mas voltar para a Venezuela não é uma alternativa.
“É difícil ter que pagar aluguel. Além disso, não tenho com quem deixar minha criança, e é por isso que trago para cá. Não vou deixá-los em casa sozinhos, não tenho família aqui. Fico vigiando enquanto o marido entrega as águas. Quero sair dessa situação, mas não tenho como”, comentou.
Depois de um dia inteiro de trabalho, a família volta para a casa. Os cinco dividem a cama e o pouco espaço que sobra para se locomover nesse cômodo. As roupas se misturam com as doações de comida que recebem. No pagamento do aluguel, vai a maior parte do dinheiro da venda de água. O casal matriculou os filhos na escola e aguarda o início do ano letivo.
Nota: A Prefeitura informa que trabalha em cima de pessoas inseridas nesses casos de imigração, para detectá-las e inseri-las no programa Bolsa Família, o mesmo acontecendo com os nacionais.
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