Comércio ilegal de ouro no Centro favorece roubo de joias em Manaus
Compra-se ouro! Compra-se ouro! Um bordão conhecido por quem caminha pelo Centro da cidade, principalmente pela esquina das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, em frente à loja Marisa, ou então por toda a extensão da rua Marechal Deodoro, a rua do “bate-palmas”.
O comércio ilegal de joias sem procedência se transformou em uma grande oportunidade para a lavagem de dinheiro no Centro. É que a falta de fiscalização favorece a venda de joias, que podem ser roubadas. A polícia reconhece que as peças são transformadas, rapidamente, em ouro bruto, dificultando a identificação.
Em outras vias do Centro como Rua Barroso e 24 de Maio, também é fácil encontrar homens e mulheres anunciando a compra de ouro. Normalmente, são pessoas sem emprego que aproveitam para garantir uma renda. A atividade ocorre sem preocupação alguma com a polícia ou fiscalização.
A abordagem acontece na calçada. O interessado em vender o ouro é levado para salas comerciais que ficam em prédios. Conforme a polícia, muitas são empresas sem autorização para funcionar. Nesses locais são feitos testes para saber a qualidade do metal e, em seguida, é fechado o negócio.
O valor pago pelo ouro é bem abaixo do preço de mercado. Após a compra, a joia é derretida e o ouro quase sempre vendido para produção de novas joias por joalherias clandestinas.
Comércio
Em todos esses locais, os ‘comerciantes’ compram ouro sem se preocupar com a procedência. “Compro joia mesmo sem saber de onde veio. Não dá para saber se a pessoa é a dona da joia ou roubou apenas olhando para a cara dela”, disse um ourives identificado como ‘Marcelino’. O melhor preço oferecido por um anel, que no Penhor da CAIXA foi avaliado em torno de R$ 600, foi R$ 190.
A engenheira Morgana Anunciação, 47, teve todas as suas joias roubadas por ladrões que entraram em sua casa após sua ausência, por causa do trabalho. Ela nunca conseguiu recuperá-las. “Eu calculo que as minhas joias valiam pelo menos uns 30 mil reais. Tenho quase certeza que foram vendidas aqui no Centro”, disse ela, que agora procura o Penhor da CAIXA, onde deposita a maioria de suas joias.
Impunidade
As pessoas que trabalham nas ruas com as placas de “compra-se ouro”, dizem que não conhecem seus verdadeiros patrões. “Dizem que é um coronel da PM quem comanda todo o esquema de compra de ouro no Centro, mas ninguém sabe o nome dele”, disse um vendedor que não quis se identificar.
A Delegacia de Roubo, Furtos e Defraudações reconhece que grande parte das joias roubadas em Manaus vai parar no comércio de ouro do Centro. Mesmo a polícia sabendo disso, é difícil combater este tipo de crime, pois a pessoa tem que ser presa em flagrante com o receptador.
Na prática, isso é quase impossível porque assim que o receptador compra a joia ele a derrete imediatamente. O poder público sabe que existem esses locais, mas não tem como fiscalizar, mesmo sabendo que esse tipo de comércio favorece os pequenos furtos de joias nas ruas ou mesmo dentro de casa por estranhos. A pena para o receptador é de até quatro anos de prisão, mas com a nova lei do Código Penal, o juiz pode aplicar penas alternativas.