Mensagens a apoiadores anunciando “dias difíceis”, saída da casa em Angra dos Reis (RJ) antes dos agentes da PF chegarem e reforma em imóvel levantaram dúvidas sobre a possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro ter tido acesso a informações sobre as últimas ações da Polícia Federal.
O que aconteceu:
21 de janeiro: Bolsonaro demonstrou temor em uma mensagem disparada a apoiadores no grupo do Telegram. Quatro dias antes de a Polícia Federal deflagrar uma operação contra um esquema de espionagem ilegal na Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Bolsonaro alertou que “as próximas semanas” poderiam ser “decisivas”.
24 de janeiro: o ex-presidente escreveu a mesma mensagem em outra rede social, demonstrando preocupação com o futuro. “As próximas semanas poderão ser decisivas. Vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas”, público no X (ex-Twitter).
25 de janeiro: PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a suspeitos de participar de espionagem ilegais na Abin. Um dos alvos foi o ex-diretor da Abin, deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que comandou a agência durante o governo Bolsonaro e é pré-candidato à Prefeitura do Rio com o apoio do ex-presidente. Foram apreendidos documentos de operação da agência na casa dele.
29 de janeiro: Carlos Bolsonaro, vereador pelo Republicanos e filho do ex-presidente, foi alvo de operação da Polícia Federal. Agentes cumpriram mandados de busca e apreensão contra pessoas do núcleo político que receberam informações da “Abin paralela”. A busca e apreensão foi autorizada na casa de Carlos, na Barra da Tijuca, e no seu gabinete na Câmara Municipal do Rio. A PF também faz buscas em Angra dos Reis (RJ), onde estava o filho de Bolsonaro.
29 de janeiro: Ao chegar à casa de Bolsonaro no começo da manhã, porém, todos haviam saído. Na ocasião, o ex-presidente e os filhos disseram que saíram para pescar e não ainda haviam retornado quando a PF chegou ao endereço.
8 de fevereiro: Jair Bolsonaro é um dos alvos de outra operação da PF. Os agentes foram à casa do ex-presidente em Angra dos Reis (RJ) para recolher o passaporte dele. O documento estava na sede do PL, em Brasília, e foi apreendido. O celular de Tércio Arnaud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro, também foi levado pelos agentes.
Outro indício apontado por opositores é a reforma da casa de Bolsonaro em Angra dos Reis (RJ). Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o ex-presidente afirmou que reformou o imóvel por temor de que o ministro Alexandre de Morares, do STF, bloqueasse suas contas. Bolsonaro disse que as obras ocorreram no fim de 2023 e que pagou com dinheiro do próprio bolso.
O que diz a defesa:
A defesa de Bolsonaro criticou a apreensão do passaporte e argumentou que ele sempre esteve à disposição da Justiça. “A medida se mostra absolutamente desnecessária e afastada dos requisitos legais e fáticos que visam garantir a ordem pública e o regular andamento da investigação, os quais sempre foram respeitados”, diz nota divulgada na quinta (8).
Sobre as outras mensagens, UOL entrou em contato com o advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.