Amazonas Energia flagela Vila de Paricatuba
Localizada a 30km de Manaus, às margens do rio Negro, no município de Iranduba, a Vila do Paricatuba, igual a todo o interior do Estado, é mais um retrato do descaso do poder público, pois apesar de ser um dos locais mais emblemáticos do Amazonas, a situação lá é de abandono. Um dos locais onde os moradores mais lutam para proteger a natureza está abandonado pelo Poder Público.
Conhecida nacional e internacionalmente, a vila atrai turistas estrangeiros e nacionais, que vão às suas ruínas históricas e praias paradisíacas em busca de meditação e diversão. Mesmo assim, ela recebeu um golpe mortal: um blecaute total por parte da concessionária Amazonas Energia, que afastou visitantes e está obrigando as pousadas e restaurantes lá existentes a fecharem as portas. A vila corre o risco de se tornar uma “cidade fantasma”, pois muitos estão abandonando suas casas e indo engrossar a fila de desempregados e favelados em Manaus.
Temporada de Carnaval foi por águas abaixo
Essa situação não atinge somente os empresários da área hoteleira e de alimentação, mas todos os comerciantes, grandes e pequenos, além dos moradores, que vêem diariamente os produtos perecíveis estragarem. Alguns, que possuem maior poder aquisitivo, conseguem comprar mini geradores de energia, mas a população em geral não tem condições financeiras de comprar um gerador e é obrigada a recorrer às lamparinas ou luz de velas. Qual interiorano tem condições de comprar um gerador de energia?
Por ser quase um bairro de Manaus – pertence à Área Metropolitana – muitos moradores trabalham na capital e retornam à noite, para encarar o calor, os carapanãs e a escuridão. Essa escuridão foi o que encontraram várias pessoas que saíram de Manaus em busca das pousadas para passar o feriado de Carnaval e deram de cara com o breu total, dando meia volta e retornando para Manaus.
“Só viemos dar viagem à toa”, disse a empresária Valéria Oliveira, 47, que encabeçava uma mini caravana de 6 carros que foram em busca das pousadas e voltaram para Manaus, por causa da escuridão. “É uma vergonha o Paricatuba estar nessas condições”, disse ela.
Incompetência é o motivo
O motivo dessa situação a que chegou a Vila do Paricatuba é a incompetência gerencial da direção da Amazonas Energia, que antes dava como desculpa a falta do cabo, mas agora o cabo está lá. Com isso, a única vocação local, que é o turismo, corre o risco de ruir, uma vez que a maioria dos proprietários das pousadas e restaurantes que oferecem café da manhã e almoço regional, já pensa em sair de lá e levar seus empreendimentos para outro município.
“Mesmo sem energia elétrica já há muito tempo, as contas de energia chegam todos os meses e não vemos ninguém fazer nada: nem vereador nem prefeito estão ligando para a nossa situação. Tem gente pegando carro e indo comprar gelo nos postos de gasolina para tentar salvar a comida, pois quase tudo está estragando”, disse L.J.C, 39, dono de uma taberna na vila.
Um local cheio de histórias
A Vila do Paricatuba foi classificada como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Estado desde 2015. Seu nome deriva de “paricás”, erva alucinógena utilizada em rituais dos povos indígenas da região, e de “tuba”, grande quantidade.
Ao chegar no local, o que chama primeiro a atenção são as ruínas do casarão do período da belle époque, no centro da vila. É cercado por árvores centenárias e tem as paredes cobertas de trepadeiras, que criam desenhos inusitados. Há guias, que ficam em frente à construção, que contam a curiosa história do lugar, hoje muito procurado também para cenário de books fotográficos.
Construído em 1898 para servir de alojamento para imigrantes, o prédio teve várias destinações ao longo dos anos. Foi sede do Instituto Afonso Pena, Liceu de Artes e Ofícios, cuja inauguração contou com a presença do então presidente Afonso Moreira Pena, em junho de 1906. Administrado por padres franceses, os membros da comunidade aprendiam técnicas de marcenaria, construção civil e artes. Depois, chegou a funcionar como casa de detenção e, em seguida, foi transformado no hospital Belisário Pena, para atender e abrigar portadores de hanseníase.
Pontos turísticos
Além das ruínas, há o Mirante da Virgem, que mostra uma bela vista panorâmica do rio Negro, com Manaus e a ponte Phelippe Daou ao fundo. A vila oferece, também, restaurantes que estão prestes a encerrar suas atividades por causa da falta de energia, mas a conta chega todo mês.
As famosas praias, como a Praia do Lago e a Praia Central, na frente da vila, que é excelente para caminhada e oferece, como uma espécie de “bônus”, um vento persistente e o visual esfuziante das praias da margem esquerda do rio Negro, estão vazias. A Praia da Bica, por trás de um barranco e a Praia do Inglês, também estão abandonadas, pois não há energia elétrica para gelar água e outras bebidas.
Foto: Divulgação