O ano era 1972 e o matadouro do bairro da Glória, conhecido como Curre, era a fonte de renda de quase todos os moradores dos arredores. A única diversão eram os pequenos bois-bumbás que encantavam a criançada, em uma época em que a energia elétrica era coisa rara e as fogueiras eram acesas o ano inteiro.
Até que um dia, segundo conta ‘Sêo’ Aderaldo, homem centenário que mora perto do mercado municipal da Glória, chegou uma nova sensação: um ventríloquo com seu boneco Luizinho, que faria apresentação na entrada do Curre.
À noite, todos ficaram admirados com a aparência acabada do ventríloquo, que tinha a textura da pele como de couro curtido, contrastando com a vivacidade do boneco, que parecia uma criança de verdade e penetrava na mente das pessoas, quando as fitava com seus olhos negros, além de não ficar no colo do ventríloquo, mas ao lado dele, em pé, no chão, seguro por cordinhas quase invisíveis mas que pareciam não controlar seus movimentos.
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Noite após noite ele divertia a todos, com piadas engraçadas, algumas até imorais, deixando as moças constrangidas, pois fitava diretamente nos seios delas, como se quisesse comê-las com os olhos, quando era repreendido pelo ventríloquo.
Tudo ia bem até que começaram a aparecer gatos mortos, devorados pela metade, como se fossem vítimas de um animal felino, grande. Mas o alvoroço começou mesmo quando apareceu um bezerro morto e do lado dele o vigia do Curre, também morto, com uma perna semidevorada e sem o pé esquerdo.
A polícia começou a desconfiar do ventríloquo, pois marcas de sangue foram notadas perto de uma espécie de catraia coberta onde ele morava. Para não aterrorizar os moradores, esperaram terminar o show e todos irem embora, para investigarem a catraia.
Encerrado o espetáculo, os policiais deixaram a Manduquinha longe e foram no escuro até a pequena embarcação. Quando entraram, viram o ventríloquo deitado, como se estivesse dormindo. Chamaram, chamaram e nada, até um dos policiais focar a lanterna em seu rosto e ver que ele estava morto e sem a língua.
Nesse instante escutaram alguém chegando, sorrateiro, pisando levemente…ficaram calados e quase morrem de terror: o boneco Luizinho estava na porta, com um pé humano na boca, sangue fresco escorrendo pelo queixo e cantalorando uma música obscena.
Os policiais atiraram no boneco e viram-no sangrar, como se fosse humano. Dando uma gargalhada, o boneco pulou dentro d’água, sumindo na escuridão da noite.
No IML o médico legista disse que o ventríloquo tinha morrido há mais de 200 anos e o aspecto da sua pele era escura porque tinha sido mumificado. O padre Leão, de Santo Antônio, que foi chamado ao local, disse que o boneco do Cão é que dava vida ao ventríloquo. Até hoje essa história é contada pelos antigos moradores da Glória.
Foto: Divulgação
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