Me chamo Jorge da Silva e o que vou contar aconteceu em Atalaia do Norte, com meu avô Manuel Estevão. Meu avô era pescador; ele nasceu em 1889 e faleceu em 1984, eu tinha 11 anos quando ele partiu. Ele contava que quando jovem, por volta dos seus 20 e poucos anos, costumava pescar somente de madrugada, pois era quando os peixes ficavam mais próximos da superfície.
Ele preparava a malhadeira com cuidado e de uma ponta a outra do rio ele a prendia firme. Naquele tempo, os peixes-bois e pirarucus infestavam os igarapés e cabeceiras dos rios, sempre era uma pesca farta, e ele voltava pela manhã carregado de peixes.
Meu avô era um homem muito curioso, e ele contava uma história de umas pessoas que viviam em um lugar onde somente ele sabia onde ficava. Ele observava sempre movimentos estranhos de pessoas do outro lado do rio, e notava que alguns deles se banhavam no rio exatamente às 5:00Hs da manhã. Num desses dias ele decidiu aproximar a canoa para ver quem eram essas pessoas, pois segundo ele contava, não existia outra vila em um raio de muitos quilômetros. A não ser a dele.
Ele, antes de atravessar com a canoa, remou alguns metros mais para a frente, para não ir em direção da margem onde estavam aquelas “pessoas”. Ao chegar do outro lado, ele entrou com a canoa em um lençol de capim na margem do rio onde permaneceu escondido. Quando chegou à uma distância de mais ou menos 20 metros, ele dizia que não acreditou de imediato no que estava vendo… (Meu avô contou essa história dezenas de vezes, e toda vez repetia a mesma coisa)
“Eram seis famílias…famílias de jacarés. Eles andavam nas duas pernas e tinham braços longos como de pessoas normais, mas os braços eram semelhantes a couro seco. Tinham a cabeça de jacaré, mas os narizes eram pequenos. Alguns deles, como crianças, rastejavam de quatro, com pequenos bracinhos e se moviam rápido na água. Nenhum deles falava e se comunicavam através de gestos. Eu pensava que eram pescadores carregando nas costas grandes jacarés mortos. Mas olhando com mais atenção, vi que eles não estavam carregando nada e eles eram os próprios jacarés”
“O momento mais assustador foi quando eles entraram no rio. Apenas um ficou em terra e esse sentava como uma pessoa na margem, mas era nitidamente um jacaré”.
Depois de tudo, vovô contou que demorou mais de 10 minutos para sair do lençol de capim, pois não queria fazer barulho nenhum. Ele estava longe da vila, então voltou para o lugar onde sempre colocava a malhadeira, e na margem embaixo de uma árvore decidiu passar a noite ali.
Vovó contava que meu avô, depois desse dia adoeceu muito e tinha alucinações. Ninguém soube o porquê. Vovô morreu com 95 anos contando essa história, e afirmava que eles ainda estavam lá.
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