Trabalhei como vigilante do cemitério de São João Batista, no Boulevard Álvaro Maia. Usarei o nome de Ramalho porque sou muito conhecido pelo pessoal da Semulsp, apesar de estar aposentado e em tratamento psiquiátrico. Quem trabalha em cemitério, principalmente à noite, já viu algo sobrenatural que, embora ninguém acredite, marca profundamente quem viu, alguns como eu, precisando de tratamento para a cabeça.
Quando tomo meus remédios é que as recordações vêm a minha mente como se eu estivesse vivendo o fato novamente, por isso resolvi escrever.
Uma tarde chuvosa, eu tinha acabado de render um colega para começar meu turno, quando chegou um enterro. O tempo estava chuvoso e o administrador do cemitério pediu para eu ajudar o coveiro, pois um havia faltado trabalho aquele dia. Não é minha função mas não pude deixar de ajudar. Era o enterro de uma menina que me deu muita tristeza pela dor e choro da mãe. Quando se despediram, ela disse ao caixão:
“Não tenha medo, um dia eu me juntarei a você, meu amor”!
Quando a família já estava saindo para ir embora, a mãe bateu na guarita onde fico e me disse que eu tomasse conta do túmulo de sua filha, que ela me pagaria por fora, pois ela lhe havia deixado uma boneca, e me pediu para cuidar dela, pois era a boneca preferida de sua filhinha.
No dia seguinte, antes de acabar meu turno, levantou-me cedo para varrer a entrada do cemitério, e vi a boneca em um banco. E foi assim por várias noites, até que em uma noite eu decidi vigiar o túmulo para ver o que estava acontecendo, e pude ver como o fantasma da menina se levantou, levou sua boneca, e então saiu. Fiquei chocado, mas já havia visto tanta mesura ali, que não fiquei assustado e vi a menina como se fosse um anjinho.
No terceiro dia ao ver isto, tomei coragem, e segui a menina. Via-a sentada num banco e perguntou-lhe:
“O que você está fazendo aqui?”
A garota respondeu:
“Eu estou esperando por minha mãe, ela disse que um dia viria!”
Três anos se passaram, e me acostumei a ver aquele pequeno fantasma. Uma noite bateram na guarita e vi a menina. Ela me olhou e disse:
“Vim para agradecer-lhe por cuidar de mim todos estes anos, não estarei mais sozinha, amanhã minha mãe virá morar comigo”.
No dia seguinte eles chegaram com um caixão, e era a mãe da menina que tinha falecido. Trabalhando lá eu passei a acreditar que o amor transcende a morte.