Acusado de chefiar uma verdadeira organização criminosa dentro do IPAAM, o diretor-presidente do órgão, Juliano Valente, genro do deputado petista Sinésio Campos, está preso, além de ter sido afastado do cargo pelo Governo do Estado. As investigações também respingaram na filha do deputado Sinésio, Dionísia Soares Campos, esposa de Juliano e superintendente de Agricultura e Pecuária do estado. O casal é alvo de uma série de denúncias de licenças ambientais fraudulentas e de esquema que pode ter movimentado até R$ 1,6 bilhão.
Juliano foi retirado do cargo e preso durante a Operação Expurgare, terceira fase da investigação da Polícia Federal sobre uma organização criminosa que envolve servidores do Instituto.
Indicação de Sinésio
Juliano foi indicado por Sinésio Campos para a presidência do Ipaam e ao qual tem acompanhado em operações de desocupação de posseiros. Uma delas no início do ano, ao invadir a sede da Associação de Silves de Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC), no município de Silves, para defender a empresa mineradora ENEVA.
Orcrim
A organização criminosa chefiada por Juliano e esposa, usava de estratégias para facilitar práticas ilegais, como emissão de licenças ambientais fraudulentas e autorizações irregulares para desmatamento em áreas protegidas. Sinésio, assim como Juliano Valente, tem sido acusados de ‘facilitarem’ licenças de mineração, desmatamento em reservas indígenas e em áreas de igarapés e nascentes protegidas por lei estadual e federal. Algumas delas para agradar amigo, como prefeito de município ligado pela Rodovia AM-10.
Em uma destas ações, a ENEVA havia virado alvo da 7ª Vara da Justiça Federal na época, justo por denúncia dos associados, com a suspenção de audiências públicas que debateriam a extração de petróleo e gás no chamado Campo de Azulão, em terras indígenas, na região do Baixo Amazonas. Prepotente, Sinésio emparedou ambientalistas mulheres exigindo a demolição da associação ambiental e a imediata saída de todos os associados do local pleiteado pela mineradora ENEVA.
O fato aconteceu no dia 20 de maio deste ano e entre as pessoas agredidas estava a ambientalista e integrante do partido Rede Sustentabilidade, Sila Vieira, ferrenha defensora das propostas da ministra Marina Silva.
A operação da PF
Na manhã de segunda-feira, 9/12, Dia Internacional Contra a Corrupção, a Polícia Federal deflagrou a Operação Expurgare, com ações simultâneas nos estados do Amazonas, Pernambuco e Rondônia. A Operação Expurgare é uma continuação da Operação Greenwashing. Nesta 3ª fase das investigações, constatou-se que a organização criminosa contava com a participação de servidores ocupantes de cargos estratégicos e de direção do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM). Esses servidores utilizavam suas posições para facilitar práticas ilegais, como a emissão de licenças ambientais fraudulentas, suspensão de multas e autorizações irregulares para desmatamento.
Os envolvidos já haviam sido indiciados em 2019 durante a Operação Arquimedes, que investigou crimes semelhantes. Nesta etapa, estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão e de prisões preventivas, expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal da Subseção Judiciária de Manaus/AM, como parte das estratégias para desmantelar o esquema criminoso.
Operação Greenwashing
A Operação Greenwashing já havia revelado um esquema de fraudes fundiárias que se estendeu por mais de uma década e foi iniciado em Lábrea/AM, envolvendo a duplicação e falsificação de títulos de propriedade. Essas fraudes resultaram na apropriação ilegal de cerca de 538 mil hectares de terras públicas. Entre 2016 e 2018, a organização criminosa expandiu suas atividades ilícitas, reutilizando títulos de propriedade e inserindo dados falsos no Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), com a colaboração de servidores públicos e responsáveis técnicos.
Nos últimos três anos, uma nova expansão das atividades ilícitas do grupo ocorreu na região de Apuí/AM e Nova Aripuanã/AM. Por meio das medidas já implementadas, foi possível desarticular financeiramente a organização criminosa, que resultou na descapitalização de quase R$ 1 bilhão. A Polícia Federal reforça que operações como a Expurgare são fundamentais para combater a corrupção, proteger o meio ambiente e responsabilizar os envolvidos em atividades ilícitas. Denúncias anônimas sobre os crimes em investigação podem ser encaminhadas por meio do canal https://forms.office.com/r/UBmPaNbDxM. A PF garante o sigilo absoluto e a proteção da identidade do denunciante.