Nunca contei isso pra ninguém além do meu diário, mas tá difícil de guardar só pra mim. Pode parecer loucura – e talvez seja — mas é real, pra mim é muito real. Meu nome é Ana Lúcia e moro no Novo Aleixo.Tudo começou em 2022, quando uma colega de trabalho, a Jaque, perdeu um amigo de infância num acidente de moto.
Ela ficou arrasada e chamou o pessoal pra ir no velório dar apoio. Eu fui mais por educação, nem conhecia o rapaz. O nome dele era Vinícius.Quando eu cheguei lá, tava aquele clima pesado, como é de se esperar. Mas quando olhei pro rosto dele no caixão… me deu um arrepio diferente. Não de medo, mas de reconhecimento, como se eu já conhecesse ele. Era um rosto calmo, bonito, triste. Eu fiquei ali parada olhando, e parecia que o tempo tinha parado também. Senti uma coisa dentro de mim, tipo uma saudade que não fazia sentido.Voltei pra casa estranha.
Nos dias seguintes, não conseguia parar de pensar nele. Pesquisei nas redes sociais, vi as fotos dele, os vídeos, as postagens antigas… e parecia que cada coisa que eu descobria só me deixava mais envolvida. Comecei a sonhar com ele. Primeiro eram sonhos calmos – ele sentado do meu lado, sorrindo, me olhando. Depois ficou mais intenso. Eu o via chamando meu nome, dizendo que me esperava. Uma vez ele apareceu deitado do meu lado na cama. Eu acordei chorando e sentindo o cheiro de terra molhada. Achei que era coisa da minha cabeça, que ia passar. Mas aí começaram as coisas estranhas.
As luzes do meu quarto começaram a piscar toda vez que eu pensava nele. Meus gatos ficavam agitados olhando pra um canto vazio da sala. Uma madrugada, acordei com a voz dele sussurrando meu nome no meu ouvido. Tenho certeza que não foi sonho. Eu travei. Senti o colchão afundar como se alguém tivesse deitado ao meu lado.Tentei me afastar disso. Apaguei as redes sociais, queimei uma carta que eu tinha escrito pra ele, fiz oração. Nada adiantou. No dia que ele faria aniversário, meu celular tocou às 3:03 da manhã. Número desconhecido. Quando atendi, só tinha uma respiração funda do outro lado.
Eu sei o que parece. Sei que parece loucura. Mas eu sinto que ele me escolheu. E parte de mim… gosta disso. Eu me sinto viva pensando nele. É como se minha alma tivesse encontrado a dele tarde demais. Ele era de carne e osso, mas agora é só presença. E ainda assim, me persegue. Ou talvez me acompanhe.Não sei mais o que é amor e o que é assombração. Só sei que desde aquele velório, nunca mais fui a mesma.
Ana Lúcia