Esse relato aconteceu comigo e até hoje ainda me assombra. Sou a Lúcia Guedes, moro na Cachoeirinha mas quando isso aconteceu, morava no Ramal do Pau Rosa, na casa de uma tia, chamada Gracinda, há muitos anos, em uma época em que não havia luz elétrica.
Titia sempre nos alertava, que se ouvíssemos uivos, gemidos, baterem na porta, era para entrarmos debaixo da coberta é só sair de lá quando o dia amanhecese. Éramos crianças, 6 e 8 anos quando meus pais morreram e eu e meu irmão ficamos sob os cuidados de tio Pablo, um peruano alto e calado, e tia Gracinda, irmã de minha mãe.Tio Pablo era muito estranho, não conversava, não era sociável. Tinha uns hábitos estranhos de ranger os dentes olhando pra nós. Titia disse que ele veio para o Brasil fugido do Peru, mas nunca disse o porquê, mas hoje sei que ele é um nahual, que na tradição ancestral é um xamã, curandeiro ou bruxo, que tem o poder sobrenatural de se transformar em animal.
Pegadas no chão

Sempre uma vez por mês eu e o mano víamos pegadas de um cachorros em volta da casa, mas as marcas eram muito grandes para ser de um cachorro comum. Falávamos para a titia mas ela sempre desconversava ou dizia que eram cachorros do mato. Um dia de noite, a lua estava grande, titia estava muito nervosa e veio se deitar comigo e meu irmão. Pediu que rezássemos o terço, ajoelhados na beira da cama. Assim que começamos a rezar, escutamos arranhão na porta, e um uivo de lobo muito alto. Ela pediu:
– Continuem crianças..”Ave Maria cheia de graça..”E mais arranhões e batidas na porta…
-Cadê o titio, tia..?! Ela não respondeu e continuou a rezar mais alto…
Até que os barulhos cessaram, titia muito suada, terminou de rezar e nos cobriu e adormeceu conosco ali.Bem de manhã cedo, ouvi quando tio Pablo entrou no banheiro pra tomar banho, assim que ele saiu do banheiro, fui logo contar o acontecido. Ele olhou pra mim, não disse nada…mas escutei ele falar pra tia que era pra levar eu e meu irmão para casa de minha vovó, na Cachoeirinha.
Nos mudamos para a casa da vovó e guardamos esse segredo. Estou contando agora porque soubemos que alguns irmãos da igreja que foram fazer vigília lá perto, foram atacados por uma fera muito grande e peluda. Eu tenho quase certeza que era o titio, mas tenho medo de contar para as autoridades. Contei para a vovó mas ela não disse nada, mas logo depois a encontrei chorando no banheiro.