Claudio Paiva, auxiliar de Tanatologia, conversava com seu parceiro de plantão, no antigo IML, localizado em frente do Sambódromo, em uma época que não existia Sambódromo ou Arena da Amazônia, em Manaus.Visivelmente preocupado, ele diz: “Vocês, por acaso, viram uma menina de vestido vermelho caminhando pelos corredores? Precisamos encontrar os pais dela! Ela não pode circular sozinha por aqui!”“Não! Não vimos!” responderam o colega e George Tiburcio, fotografo de um jornal de grande circulação, que dava plantão, esperando chegar algum “presunto”, como se referiam aos cadáveres encontrados com mais de dois dias após a morte, desovado em algum ramal da periferia.
Sêo Rufino, servidor público antigo do local, empalideceu e quase desmaiou.“O que foi que houve?”, indagou Claudio.“Pois bem”, respondeu Rufino, tentando manter a calma. “Na semana passada, durante minha folga, fui até a máquina pegar um café. Quando, ao olhar no espelho ao lado da cafeteira, vi a mesma menina parada atrás de mim. Me assustei profundamente, pois, ao me virar, não havia mais nada ali.
”O grupo de funcionários, a partir daqueles relatos, passou a prestar mais atenção nos corredores, segundo ele. Desde então, o medo tornou-se constante naquela ala hospitalar, particularmente durante as madrugadas. Os profissionais, de forma súbita, passaram a temer um eventual encontro com o que chamavam, em voz baixa, de “o fantasma da menina de vermelho”.
Determinadas superstições populares afirmam que almas de crianças podem vagar por lugares de dor e silêncio, especialmente quando algo em suas histórias ficou inacabado. Algumas culturas creem que espíritos vestidos de vermelho carregam memórias intensas de dor ou paixão – e que sua manifestação pode anunciar alertas, desequilíbrios energéticos ou mudanças em um ambiente.Todos procuraram pelos corredores do IML mas não encontraram a menina, até Tiburcio dar um grito e jurar que viu a água do bebedouro ferver.
Quando todos chegaram perto, realmente viram que o garrafão estava quase derretendo de quente, muito embora a noite fosse chuvosa. Segundo Tiburcio, que enviou o conto, procuraram por todos os cantos até descerem para a área onde ficavam a câmaa fria.
“Só vimos uma fivela caída com uma florzinha vermelha, mas era uma câmara que não estava mais em uso”, contou ele. Buscando nos registros antigos, descobriram que naquela câmara tinha estado uma menina que foi encontrada morta e sido enterrada como indigente. Nas fotografias que constavam no arquivo, viram que era a mesma menina que Claudio acabara de ver, andando pelos corredores.
Segundo eles, o IML mudou para a Zona Norte, mas a menina ainda pode ser vista atualmente. Alguns servidores novatos pediram até transferência de lá para outras repartições públicas, devido ao medo que ficaram, ao verem a menina de vermelho.
* Os nomes das pessoas envolvidas foram trocados à pedido de quem enviou o relato. É que elas ainda trabalham no IML.