Meu tio era vigia do cemitério Santa Helena, na divisa dos bairros Santo Antônio e São Raimundo, e esta história aconteceu na década de 70, quando ele estava na ativa. Eu moro na Glória, sou a Neuza e essa história marcou minha infância, aliás não só a minha como se meus parentes e de um locutor da rádio Rio Mar, que foi com ele, entrevistá-lo.
Meu tio contou que era a época da Quaresma e ele estava na guarita, quando entraram três homens com uma autorização de reforma em um túmulo da família. Tudo normal, mas meu tio estranhou que com eles estava uma menina de mais ou menos uns 10 anos de idade, parecia triste cabeça baixa, pálida, e enquanto os homens trabalhavam ela ficava sentada os observando, o túmulo a ser reformado era um pouco distante da guarita, mas em suas rondas meu tio passava pelos homens trabalhando e via a menina.
Foram três dias de reforma e sempre a menina chegava e saía do cemitério com os três homens. No terceiro e último dia, a menina chegou com os homens, mas na hora em que eles iam embora meu tio sentiu falta dela e ficou preocupado pois não viu em momento algum a menina passar pelo portão de saída.
Apreensivo, ele foi até o carro dos homens que estavam guardando as ferramentas, pois nesse dia eles trouxeram muita coisa para a reforma, inclusive caixas grandes que pareciam conter lajotas. Meu tio se aproximou do carro e sem muitos rodeios perguntou sobre a menina; os homens se olharam entre eles sem entender nada.
Titio explicou da menina, que viu entrar e sair junto à eles esses dias e que naquele dia menina a chegou com eles mas agora ele não a viu sair do cemitério. Os homens, mais uma vez, disseram não ter trazido em momento algum uma menina junto à eles e um dos homens ficou um tanto agitado, foi entrando no carro e mandado os outros entrar também e saíram cantando pneus.
Titio voltou para guarita mas não parava de pensar na triste menina, até que chegou o horário dele e ele foi pra casa, mas ele disse que sentia algo estranho, pois lembrava do rosto triste da menina.Sem conseguir dormir, ele então resolveu voltar ao cemitério. Ele pegou uma garrafa de café e foi até lá. Chegou perto do túmulo e começou a ouvir um choro de criança e, ao longe ele, viu um vulto. Foi em direção ao vulto e viu um vulto pequeno que começou a se mover em meio aos túmulos. Ele foi indo atrás, tentando iluminar com sua lanterna e o vulto foi em direção ao túmulo recém reformado e desapareceu.
Ele ouvia o choro, que agora parecia estar abafado. Chegou bem próximo ao túmulo o choro foi ficando mais forte, então ele encostou a orelha no túmulo e percebeu que o choro vinha lá de dentro. “Ele ficou um tempo escutando o choro até que ouviu um sussurro sair lá de dentro, uma voz fraca de criança pedia: “Me ajuda”. Titio olhou e viu que as lajotas que foram colocadas à tarde no túmulo estavam todas trincadas, pedaços pelo chão, e alguma coisa arranhava dentro do túmulo desesperadamente.
De repente, de dentro do túmulo saí um assombroso grito de socorro e titio saiu em disparada, pois agora o choro da criança e os gritos por socorro eram tão altos que ecoavam por todo cemitério. Ele começou a procurar nos registros à quem pertencia aquele túmulo, pois era um túmulo que antes da reforma estava praticamente abandonado: Duas pessoas já haviam sido sepultadas lá; um senhor, há mais de 20 anos e uma mulher há oito anos, mas nenhuma criança para justificar aquele choro.
Sem esperar mais, ele resolveu abrir o túmulo já que já estava todo quebrado mesmo. Titio meteu a marreta e os gritos foram parando conforme o buraco no túmulo se abria. Ele colocou o foco da lanterna dentro do túmulo pelo buraco aberto e viu que ao lado do velho e apodrecido caixão, havia um saco plástico preto e dentro parecia ter um pano. O cheiro que saía lá de dentro era insuportável. Ele puxou o saco plástico para fora e o que havia dentro dele era algo chocante: o corpo de uma criança, uma menina; seus membros estavam todos quebrados pois ela fora dobrada e amarrada como se fosse uma boneca de pano. Titio começou a vomitar e gritar de desespero, pois era a menina que ele via junto aos três homens.
Ele chamou a polícia, que descobriu que o próprio pai matou e escondeu o corpo da criança no túmulo, onde a oito anos atrás ele sepultou a sua esposa, a mãe da criança. Ele desconfiava que a esposa o traía e a menina era filha de outro homem, por isso matou as duas. Ele era um dos três homens que trabalhou na reforma do túmulo.