Esta história se passou numa tarde sombria do mês de agosto, na comunidade do Igarapeaçu, em Novo Airão, no terreno do Raimundo José, madeireiro conhecido na área, tocador de violão, habitando a área onde viria a ser construído e depois abandonado, o hotel de selva Mercury, dos italianos. Raimundo José e seus dois filhos Ezequiel, o ‘Diguiel’ e o ‘Pinto’, o mais novo, estavam derrubando um roçado atrás da casa dele, quando duas crianças, misteriosamente, apareceram.
Um menino e uma menina emergiram de uma fossa profunda que eles haviam cavado para fazer armadilha para uma onça, que estava pegando os porcos. O menino e a menina tinham a pele e cabelo da cor verde. As crianças eram do mesmo tom das folhas das arvores e suas roupas eram feitas de um tecido desconhecido e falavam em uma língua desconhecida. Os três os levaram para a comunidade algumas mulheres tentaram lavar a pele e o cabelo das crianças para tirar a cor verde, mas em pouco tempo descobriram que não se tratava de nenhuma pintura, e sim de sua verdadeira pigmentação. Algum tempo depois, as crianças começaram a demonstrar sinais de desespero, choravam e recusavam os alimentos que eram oferecidos pelas pessoas locais.
Como não conseguiam entender as crianças, os moradores resolveram leva-lás para a casa de Raimundo José.Ali descobriram que as crianças não falavam português nem nada que se podia reconhecer. Elas se comunicavam em uma língua inteiramente desconhecida. Eles perceberam que as crianças tinham fome, então Ceará, presidente da associação de moradores, durante cinco dias foi a eles oferecendo diversos alimentos, no entanto as crianças não comiam nenhuma das refeiçoes dadas a elas. Os dois estavam tristes e choravam dia após dia.
Até que alguém trouxe uma rodada de grãos de milho colhidos, recentemente, e as crianças então se interessaram pelo milho verde. Incrivelmente, os dois sobreviveram apenas comendo milhos verdes durante muitos meses. Com o passar do tempo, aos poucos, as crianças foram se acostumando com sua nova alimentação. Ao serem batizados, a menina ganhou o nome de Vanusa, mas o menino já se encontrava debilitado e logo em seguida faleceu. A menina adaptou-se melhor a sua nova situação e sobreviveu.
A cor verde de sua pele desapareceu gradativamente, cedendo lugar a um tom normal . Ela se casou jovem e viveu com um pescador da Terra Preta. Ela era sempre questionada sobre seu passado e de onde teria vindo. Mas tudo o que falava, só fazia aumentar o mistério sobre suas verdadeiras origens. Dentre as poucas coisas de que se recordava, havia o fato de que ela e o menino eram irmãos e que tinham vindo da “Terra Lóris”, uma terra sem sol, onde o crepúsculo era eterno. Todos seus habitantes tinham a pele verde. Ela não foi capaz de localizar exatamente aonde ficava a sua terra natal. Entretanto, dizia que de onde morava era possível ver, bem ao longe, uma terra luminosa, que ela chamava de “Luminous”.
Essa terra luminosa ficava depois de um rio que separava ambas as terras. Desde menina, ela sempre afirmou que se lembrava apenas de que estava cuidando do rebanho do pai e seguiu um animal até uma caverna, onde ela e o irmão ouviram um som alto, parecido com o som de sinos. Assim, atraídos pela curiosidade, vagaram na escuridão da caverna por um longo tempo até que acharam uma saída. De repente, eles ficaram cegos devido a um forte clarão de luz que os envolveu. No instante seguinte ela e o irmão caíram, misteriosamente, nas terras do Raimundo José, cujo sol machucava seus olhos e as pessoas, de cores estranhas, olhavam para eles .
*Nota – Assim como ela apareceu, também um belo dia sumiu; ela, o marido e os dois filhos. Até hoje, turistas vão ao terreno onde aconteceu esse fato.