Neste domingo (6), manifestantes movimentaram a avenida Paulista, na região central de São Paulo, para apoiar anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro. Durante o ato, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras lideranças da direita participaram.
Batom já é hit na manifestação. Vários dos manifestantes levam batons ou cartazes em referência ao caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que está em prisão domiciliar depois de passar mais de dois anos presa preventivamente.
Apoiadores da anistia colocam músicas sobre Débora nos alto-falantes. Em ritmo de sertanejo e trap, cantores não identificados dizem que a mulher sofreu injustiça. “Com o batom na mão, ela acordou a nação. Jogada de forma errada, 14 anos de prisão, que crime cometeu?”
Débora ficou conhecida por pichar com batom a estátua da Justiça em frente ao STF. Mas a acusação contra ela não se limita a esse único ato. Segundo a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), a mulher participou do quebra-quebra e se associou conscientemente aos demais participantes dos atos golpistas de 8 de Janeiro.
Débora ainda não foi condenada. Manifestantes exibem cartaz com batom, dizendo “usar essa arma te condena a 14 anos”, mas isso não é verdade: Débora ainda não foi condenada. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, sugeriu uma pena de 14 anos de prisão por cinco crimes: abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada.
Para ela ser, de fato, condenada, ao menos três dos cinco ministros da Primeira Turma do STF têm de apoiar esse entendimento, e o julgamento ainda não acabou. Até o momento, há dois votos nesse sentido, o de Moraes e o do ministro Flávio Dino. O ministro Luiz Fux suspendeu a análise por até 90 dias, e sinalizou que vai pedir uma revisão da pena.
Homem diz ter viajado 1.200 km para participar de manifestação. O autônomo José Oliveira, 58, veio numa caravana de Montanha (RS) fazer um bate-volta em São Paulo. “Eu estou aqui para protestar pelas penas desproporcionais que foram aplicadas. É um absurdo. Hoje não é um ato fora Lula, é por justiça por essas pessoas. Multas milionárias, como é o caso da Débora, por causa de um batom.”
Sete governadores foram à manifestação. Romeu Zema (Novo-MG), Jorginho Mello (PL-SC), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Wilson Lima (PL-AM), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Mauro Mendes (União-MT) posaram ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro em foto divulgada pelo líder da bancada evangélica na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Cláudio Castro (PL) havia confirmado presença, mas cancelou após fortes chuvas desabrigarem centenas de pessoas no Rio. Mais de 300 pessoas tiveram de deixar suas casas em Angra dos Reis, onde o volume de chuva em dois dias foi mais que o dobro da média para o mês inteiro.
Ratinho Júnior (PSD) disse que não iria, mas apareceu. Depois de almoçar com Bolsonaro em Curitiba na sexta-feira, o governador paranaense falou que não poderia vir ao evento porque viajaria aos Estados Unidos. Ontem, ele participou do lançamento de um livro junto com o presidente do PSD, o ex-governador Gilberto Kassab, como mostrou a coluna de Mônica Bergamo no jornal Folha de S.Paulo.
Ronaldo Caiado lançou pré-candidatura à Presidência na sexta, dois dias antes de dividir palco com Bolsonaro. Tanto o ex-presidente quanto o governador goiano estão atualmente inelegíveis. Decisão da Justiça Eleitoral de Goiás de dezembro passado condenou Caiado a oito anos de inelegibilidade por abuso de poder político, mas ele ainda pode recorrer da decisão.
Reunião de governadores acontece em meio a disputa por protagonismo na direita. Com Bolsonaro inelegível, os nomes de vários dos presentes hoje na manifestação têm sido aventados como eventuais substitutos. O mais competitivo, segundo pesquisa Datafolha divulgada hoje, é o governador paulista Tarcísio de Freitas.
Fonte: Uol