Na Manaus de antigamente, com pouca tecnologia e meios de comunicação, muitas figuras conhecidas em Manaus, tornaram-se célebres, através de histórias contadas pelos “mais velhos”, muitas delas com suas ações aumentadas por pais empenhados em assustar os filhos.Dois dos “doidos” mais conhecidos em Manaus – e aqui o termo doido não é pejorativo, já que Manaus era uma verdadeira loucura – foram Carmem e Bombalá. Comecemos pela Carmem.
Carmem Doida era morena, alta e magra e morava pelas imediações do prédio da antiga Prefeitura de Manaus, lá pras bandas da Frei José do Inocentes. Ganhava dinheiro fazendo pequenos carretos para as senhoras que compravam no Mercado Adolpho Lisboa. Ao final do dia, levava o que arrecadava para dividir com as colegas do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro.
Tudo o que arrecadava ela dividia com as outras internas.Andava pelas ruas e dançava sozinha ao som de músicas imaginárias, mas não mexia com ninguém, nem era violenta; apenas respondia com palavrões quando incitada pelas chacotas dos moleques: “ Doida é tua mãe seu filho da pu…vagabundo”! Outra coisa: Fosse qualquer pessoa andando na sua frente e coçasse o braço ou a perna, ela ficava uma arara e descarregava impropério. Nunca se soube o porquê de ela ficar tão ofendida com tal gesto.Dizia que era doida, mas tinha juízoCarmem gostava de ganhar presentes. Ela aniversariava dia 18 de abril e nesse dia ia às casas de conhecidos “cobrar” seus presentes, assim como, usava um caderno e um lápis com borracha na ponta, no qual escrevia uma cartinha para o Papai Noel pedindo seu presente e sempre era atendida por uma moradora que sentia pena dela, apesar de não entender nada do que ela escrevia(?): apenas riscos e rabiscos…
Um dia Carmem Doida sumiu. Era o ano de 1974. Sumiu e não deixou pistas, até ser descoberta jogada numa cama de uma casa na Rua Frei José dos Inocentes, paralítica! Sim tinha ficado paralítica em consequência da brutalidade de um guarda que vendo-a entrar num ônibus pela porta de trás, mandou-a sair…como ela não o atendeu, ele a empurrou com o ônibus em movimento. Ela caiu, bateu a cabeça e o joelho. Chegou em casa e não disse nada. Passados alguns dias, não conseguiu mais andar, foi levada ao médico que detectou não ter mais jeito e desde então não pode mais sair de casa, ficara paralítica.
Bombalá
Bombalá não era doido. tinha Síndrome de Dow. Era de família tradicional e morava na Avenida Joaquim Nabuco, próximo à Praça da Polícia. Usava sempre uma calça que era chamada na Década de 70 de’ pega-marreca’. Dizem que chegou a estudar música. O certo é que não perdia uma apresentação da Banda de Música da Polícia Militar, fosse no Coreto, em desfiles de Formatura ou nas Paradas Militares de 7 de setembro.
Segurando um pedaço de pau que fazia de batuta, lá ia ele a frente do Pelotão, “regendo” os músicos.Podia-se ouvir saindo da boca do “Maestro”, (e numa cadência ritmada), que ele cantava com todo o orgulho, de cabeça erguida: “Toma limonada, prá cagar de madrugada…toma limonada, prá cagar de madrugada…”.Como Carmem, Jaú e Macaxeira, um dia não apareceu mais nas ruas; foi embora, como a Manaus poética, que teima em se manter viva na memória de quem viveu essa época…como alguns integrantes deste portal.