Emoção, lágrimas e muitas histórias marcaram o velório de Arnaldo Santos, uma unanimidade em Manaus. Quem nasceu nas décadas de 60 e 70 sabe muito bem quem é ele, que brilhou e inspirou muito moleque a estudar e seguir as carreiras esportiva e comunicação com seu AS nos Esportes. Quase toda a imprensa esportiva, políticos, empresários, familiares e amigos se fizeram presentes à Funerária Canaã, no Centro, e de la até o cemitério Recanto da Paz, depois da Ponte do Rio Negro, em Iranduba.
Uma lenda no esporte amazonense, onde narrou momentos históricos em quase 60 anos de carreira e onde também deixou sua colaboração como presidente da Fundação Vila Olímpica, Arnaldo Santos recebeu a visita de nomes que fizeram parte de sua trajetória, como os colegas de rádio Difusora Zezinho Bastos e Roberto Cuesta, o amigo e produtor televisivo Kid Mahal, o deputado Sinésio Campos, o seu sucessor na coordenação do Peladão, Sidniz Pereira, e, claro, a família que esteve ao seu lado nos momentos mais duros desde que ele descobriu um câncer, em 2016.
Missão cumprida
“Eu digo que ele é o esporte amazonense que estava em vida e agora partiu. Então a gente só tem a agradecer por ter conseguido viver ao lado dele. Agradecemos ao povo amazonense por ter acolhido esse nosso pai, nosso amigo, e acima de tudo um profissional brilhante que fechou sua missão aqui na terra com sucesso”, afirmou a filha de Arnaldo, Ana Laura.
Kid Mahal, que dividiu diversos momentos ao lado de Arnaldo, destacou a trajetória de Arnaldo à frente do Peladão. “Eu, como muitos, conhecia o Arnaldo desde criança, mas a minha maior alegria foi poder trabalhar com ele no Peladão. Construímos um grande projeto, um grande programa de valorização do esporte e da mulher brasileira. Arnaldo Santos era um pai, um amigo, um irmão, um mestre. Tudo ele fazia questão de ensinar e digo que aprendi muita coisa com ele, até melhorar meu status de bom cidadão na cidade. Muito obrigado, meu Mestre”.
Lembranças e memórias
Na despedida, apesar da dor, não faltavam memórias de grandes momentos vividos por Arnaldo ao longo das seis décadas de dedicação ao jornalismo esportivo. Voz das principais conquistas de todos os times do Amazonas ao longo deste período, Arnaldo nunca escondeu sua paixão pelo Rio Negro, e por isso uma bandeira do Galo da Praça da Saudade, levada por torcedores, cobria seu caixão – que estava fechado, pois Arnaldo sempre deixou claro que não queria que o vissem morto.
Quem era Arnaldo Santos, a Lenda do jornalismo esportivo amazonense
“Bom filho, bom aluno, bom de bola, porque craque na bola é craque na escola”. Com esse jargão – incentivando sempre o jovem a praticar o esporte, mas sem negligenciar os estudos – Arnaldo Santos, marcou época e gerações com o seu “AS nos Esportes”, numa época em que a televisão e a rádio reinavam absolutas e o futebol em Manaus era outro.
Hoje, aos 86 anos, ele deixou esta vida para virar lenda. Na época dos grandes clássicos Rio-Nal ou Pai e Filho, na Colina e no antigo Vivaldão, Arnaldo jogava de centroavante da informação, sempre priorizando os times locais e as “pratas da casa”, como dizem. Arnaldo era jornalista e radialista e se tornou um ícone da imprensa esportiva do Amazonas, construindo uma longa e sólida carreira ao longo de, pelo menos, cinco décadas em vários veículos de comunicação, sendo ainda gestor público. Ele tratava um câncer há algum tempo.
O começo
Começou como locutor esportivo em 1959, aos 20 anos de idade, transmitindo jogos de voleibol, basquetebol, e futebol de salão (hoje futsal), nos serviços de alto-falante, na quadra Francisco Guimarães, situada no Atlético Rio Negro Clube; o que levou a Luis Verçosa, então narrador de esporte da rádio Rio Mar, a indicá-lo a Erasmo Linhares, diretor artístico da Rádio Rio Mar, para compor a equipe de esporte num período de três meses.
De lá foi para a Rádio Baré (Diários Associados), Luis Saraiva, para realizar um teste e acabou sendo contratado, iniciando assim uma carreira de locutor esportivo, fazendo oficialmente a primeira narração de um jogo em 1961, do Campeonato Amazonense, no Parque Amazonense -, entre Fast e São Raimundo. Da Rádio Baré foi para a Difusora.
Carreira meteórica
Além da sua grande paixão, o futebol, ele transmitiu Fórmula 1, Boxe, Voleibol, Basquetebol, Handebol, Futsal, Ginástica, provas de atletismo, não só a nível local, mas também nacional e internacional.
AS nos Esportes
Em 1970, ele começou a apresentar o programa AS nos Esportes, que viria marcar definitivamente sua carreira, passando 14 anos, na telinha da então TV Ajuricaba, afiliada da TV Globo.
Foi presidente da Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Amazonas (ACLEA), a convite do governador Danilo Duarte de Matos Areosa, em 1968, para fazer parte do grupo executivo de construção do Estádio Vivaldo Lima, composto pelo coronel Temisthocles Trigueiro, Flaviano Limongi, João Augusto Souto Loureiro, Hugo Silva Reis, Carlos Lins e Erisaldo Godôt.
Em 1995, foi convidado pelo governador Amazonino Mendes para assumir a subsecretaria de Desportos da secretaria de Estado, Cultura e Deportos–Seduc, respondendo pela presidência da Fundação Vila Olímpica de Manaus, cuja primeira missão foi a recuperação do Estádio Vivaldo Lima.
Homenageado em vida
Em fevereiro de 2016, Arnaldo Santos recebeu a mais alta comenda concedida pela Assembleia Legislativa do Amazonas, a Medalha Ruy Araújo, por iniciativa do deputado Serafim Corrêa, aprovada por unanimidade de seus pares.
“Arnaldo dedicou os últimos 56 anos da sua vida ao bom esporte e, nada mais justo do que homenageá-lo com a Medalha Ruy Araújo, como um reconhecimento a tudo aquilo que ele fez, seja como cronista, dirigente esportivo, atleta e treinador, ressaltou Serafim Correa.
“Ele embalou muitas gerações com o programa de televisão ‘AS nos Esportes’, campeão de audiência da época, que ficou famoso com o bordão: seja bom filho, bom aluno e bom de bola, porque craque na bola é craque na escola’. Gerações cresceram ouvindo e vendo Arnaldo dizendo isso na televisão. Pregando o esporte como uma alternativa para fugir das drogas, há 40 anos, quando ainda não era o flagelo que é hoje. Essa homenagem pode até ser tardia, mas justa e merecida ela é”, disse Serafim.
Menino da Cachoeirinha
Arnaldo Santos, amazonense que cresceu no bairro da Cachoeirinha, emocionado, reviveu e dividiu muitas histórias de sua vida e do esporte com a plateia. Arnaldo destacou a história do menino Tenório Telles, vindo do município de São Tomé do Purus, e que veio morar no bairro Educandos para estudar na capital.
“Ele ficava na janela dos vizinhos para assistir ao ‘AS nos esportes’, estudou, se dedicou e hoje, o poeta e escritor Tenório integra a Academia Amazonense de Letras”, contou, a época.
O cronista encerrou o seu discurso deixando um recado para a sociedade. “Todos os dias somos chamados a um grande desafio, o desafio da vida. Só experimenta a vitória quem tem coragem de arriscar. Os desafios nos ensinam a viver. É preciso amar a vida e querer vivê-la com intensidade. A minha vida eu construí tendo a bola como parceira e cúmplice do meu próprio destino”, ensinou.
Governo, Prefeitura e Assembleia Legislativa lamentam morte da Lenda
O governador Wilson Lima juntamente com o prefeito-interino Renato Júnior, lamentaram a morte do jornalista, radialista e comentarista esportivo, Arnaldo Santos, aos 86 anos, em nome do Governo do Estado e da Prefeitura de Manaus.
“Hoje, o rádio está de luto, mas a sua história está eternizada no esporte do nosso estado. Desejo que seus próximos encontrem força e serenidade para enfrentar essa perda irreparável e agradeço ao seu Arnaldo por tudo que fez pela nossa terra”, disse o prefeito interino.
O governador do estado, Wilson Lima (UB), publicou suas condolências nas suas redes sociais. Ele definiu Arnaldo Santos como “uma lenda do jornalismo esportivo amazonense”
Aleam se pronuncia
O presidente do legislativo estadual, deputado Roberto Cidade, também manifestou pesar. Cidade destacou que Arnaldo trabalhou no governo de Amazonino Mendes na década de 90, além de Santos ter participado da construção e reforma do estádio Vivaldão, a Arena da Amazônia.
Arnaldo Santos deixou a sua marca em diversos veículos de comunicação na capital amazonense, transmitindo partidas de vôlei, futebol e outras modalidades na Rádio Rio Mar, A Crítica e Difusora, Baré, Ajuricaba.
Ele também foi presidente da Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Amazonas (Aclea) e subsecretário de Desportos da Secretaria de Estado, Cultura e Desporto (Seduc), como mencionado pela Aleam.