Quem morava nas cercanias de Santo Antônio, São Raimundo, Glória, São Jorge e Jardim dos Barés, conheceu ou foi lá, em busca de orelhas de boi, cabeças ou sebo para fazer vela. O matadouro do bairro da Glória, o Curro, matou a fome e fez parte da infância de muita gente, ainda viva, hoje.Ficava às margens do Igarapé de São Raimundo, em 1922.
Construído em estilo neoclássico, o conjunto substituiu um antigo curro da época provincial e contava com laboratório para análise sanitária dos animais – um sinal de avanço nas práticas de abate da época.Com a entrada em funcionamento do Frigomasa, no início da década de 1970, o local foi desativado, isolado e, lamentavelmente, criminosamente abandonado. Pouco depois, o belo prédio foi demolido. O que se vê hoje: o prédio da FUNASA ocupa a área onde um dia esteve uma das estruturas mais emblemáticas da Manaus urbana do início do século XX.

E mesmo apagado da paisagem, o passado resiste – em períodos de seca, ainda é possível ver vestígios do antigo matadouro às margens do igarapé.”Muita gente criou seus filhos no curro, na Década de 60. Eu trabalhei lá como vaqueiro e lembro que os homens encarregados em matar os bois, não recebiam salário: o pagamento era o miúdo do animal, costume vivo até hoje no Baixo Amazonas”, relembrou José Augusto Oliveria, 76 anos, morador do bairro da Glória.

Nas lembranças de José Conceição Santos, 78, morador do Santo Antônio, eram os circos e bois bombás que se instalavam em um campo onde hoje localiza-se a UPA do bairro da Glória. “Eram tempos bons, em que o curro não era só um local de trabalho, mas também diversão e ganho de vida para moradores do Educados, que trabalhavam em catraias, vendendo merenda para os trabalhadores” , recordou.