Sob o som de “Valeu por você existir, amigo”, puxado por Chico da Silva, o velório de Paulo Onça, na quadra da Escola de Samba Vitória Régia, foi o retrato do que ele foi em vida: a alma do samba, como bem definiu o prefeito David Almeida, em nota oficial. Em meio à roda de samba, pedidos de Justiça e lágrimas, dos familiares e amigos, que optaram por se despedir dele da forma que ele sempre gostou e viveu: com muito samba. O cortejo com o corpo do cantor seguiu até o Cemitério de São João Barista, onde foi sepultado, por volta de 17 horas.
Desde que saiu a notícia de sua morte, artistas locais e nacionais, se manifestaram nas redes sociais, lamentando a partida tão prematura de alguém que ainda tinha muito a contribuir com a arte e a cultural local, como disse o prefeito. “Paulo Onça foi mais do que um sambista: foi a alma do samba de Manaus. Sua partida nos entristece profundamente, mas seu legado será eterno. A cultura manauara hoje está de luto”, comentou.

Figura de proa
Figura central na história da música popular do Amazonas, Paulo Onça dedicou mais de 45 anos de sua vida à arte e à valorização do samba como expressão da alma manauara. Com mais de 130 composições, teve suas obras interpretadas por ícones nacionais como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Leci Brandão e Exaltasamba, levando o nome de Manaus para todo o Brasil.
“Com profunda tristeza recebemos a notícia do falecimento do artista Paulo Onça, um nome que marcou a cultura brasileira com seu talento, irreverência e compromisso com a arte popular. Paulo foi uma figura essencial na cena cultural de Manaus, deixando um legado que permanecerá vivo em nossa memória”, afirmou o diretor-presidente da Manauscult, Jender Lobato.

Toda a Cultura sentiu a perda
A morte do sambista repercutiu entre agremiações carnavalescas e também foi lamentada pelo cantor Zeca Pagodinho, que chegou a gravar uma canção do artista. Paulo Onça estava internado há cinco meses, após ter sido brutalmente espancado durante uma briga de trânsito ocorrida na Rua Major Gabriel, no bairro Praça 14, zona Sul de Manaus. Em uma publicação em sua página no Facebook, o cantor Zeca Pagodinho comentou: “Descanse em paz, Paulo Onça! O sambista Paulo Juvêncio de Melo Israel, o Paulo Onça, de 63 anos, fez sua passagem nesta segunda-feira (26), em Manaus. Nossos sinceros sentimentos aos familiares, fãs e amigos desse sambista tão querido.”
Algumas escolas de samba de Manaus também prestaram homenagens ao sambista. Em seu perfil no Instagram, a Reino Unido da Liberdade escreveu: “Figura marcante e de grande relevância para o samba. Seu legado é imensurável e continuará vivo nas rodas de samba, nos desfiles e na memória de todos.” Já a página da GRES Mocidade Independente de Aparecida publicou: “Homem de sensibilidade. Paulo Onça foi mais do que um compositor: foi um cronista do povo, um ícone da cultura popular e um apaixonado pela arte das escolas de samba.” No Rio de Janeiro, a escola de samba Grande Rio também prestou homenagem, publicando uma foto do artista. Em 2017, Paulo Onça, ao lado dos compositores Kaká, Alan Vasconcelos, Dinho Artiglieri, Rubem Gordinho e Marco Moreno, assinou o samba-enredo que homenageou a cantora Ivete Sangalo. Outros nomes consagrados do samba, como Exaltasamba, Xande de Pilares e Jorge Aragão, também gravaram composições de Paulo Onça.

Vítima de agressão
Paulo Onça foi brutalmente espancado durante uma briga de trânsito na madrugada do dia 4 de dezembro do ano passado, na rua Major Gabriel, no bairro Praça 14, zona Centro-Sul de Manaus. Imagens de uma câmera de segurança mostram o compositor avançando o sinal vermelho no cruzamento da rua Major Gabriel, atingindo o veículo do suspeito, identificado como Adeilson Fonseca, que conduzia um Fiat Uno.
Em seguida, Adeilson corre em direção ao carro da vítima e desfere diversos socos. Uma mulher tenta apaziguar a situação, mas o agressor retorna ao veículo da vítima e continua as agressões.

Viúva pede Justiça
A esposa do sambista e compositor Paulo Juvêncio de Melo Israel, o Paulo Onça, lamentou a morte dele nesta segunda-feira (26), em Manaus. Ele estava internado há mais de cinco meses, após ser agredido depois de um acidente de trânsito na capital, em dezembro de 2024. “Não merecia esse fim”. Simone também relembrou o episódio de violência e destacou a luta de Paulo Onça durante os quase seis meses em que esteve internado, tentando se recuperar das agressões que sofreu.
“Foi um guerreiro. O Paulo se tornou um paciente neurológico gravíssimo. No impacto, ele sofreu traumatismo craniano grau 3, e a agressão foi o que causou sua queda”, contou Andrade.
A esposa do sambista destacou que a internação de Paulo Onça foi marcada por muitas idas ao centro cirúrgico e à UTI. “Ele lutou por quase seis meses. Foi muitas vezes para a UTI, muitas vezes para o centro cirúrgico. Ele foi um guerreiro, mas, infelizmente, a maldade levou o Paulo. A agressão levou o Paulo”. Emocionada, Simone disse ainda que a ficha da perda ainda não caiu. “Ainda não acredito”.
“Que a pessoa possa pagar pelo que fez. Mas a gente precisa levar isso a júri popular. Paulo não merecia esse fim”. Simone encerrou o desabafo agradecendo o apoio e pedindo visibilidade para a história do marido. “Quando a gente ama, a gente diz isso. Mas tudo acontece no tempo de Deus, no tempo da espiritualidade. Eu só tenho a agradecer e pedir que divulguem bastante a história dele, que coloquem na mídia, porque ele é nossa referência no samba”. concluiu. Paulo Onça foi compositor da Grande Rio e colaborou com grandes nomes do samba, como Jorge Aragão e Zeca Pagodinho.