A engenheira de Segurança do Trabalho Lizandra Bentes, especialista em Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) e com mais de duas décadas de atuação em operações de risco, apresentou uma análise técnica sobre fatores que costumam levar ao tombamento de guindastes em montagens de grandes estruturas, como a árvore de Natal instalada no Largo de São Sebastião, onde ocorreu o acidente.
“Os acidentes com guindastes geralmente envolvem múltiplas variáveis que precisam ser avaliadas antes da execução da operação. Sobrecarga, cálculo incorreto da massa e do centro de gravidade da carga, raio de içamento maior que o previsto, extensão inadequada da lança e falhas nos estabilizadores são alguns dos fatores mais comuns”, explica Lizandra. Ela acrescenta ainda que condições do solo, rajadas de vento, rigging inadequado e erros humanos relacionados à comunicação ou qualificação da equipe também são determinantes.
Ao comentar especificamente sobre o acidente no Largo, a engenheira ressalta: “Sem laudos técnicos é impossível afirmar a causa com 100% de certeza, mas observações plausíveis incluem ausência de levantamento geotécnico, falta de uso de placas de distribuição de carga sob os estabilizadores, escolha de guindaste com capacidade insuficiente, execução sem plano de içamento detalhado e procedimentos de montagem mal definidos. O solo é crítico: qualquer afundamento diferencial compromete a estabilidade da máquina”.
Sobre a importância do planejamento e da documentação, Lizandra destaca: “Operações desse porte exigem plano de içamento, plano de rigging, ART, análise de risco, certificação dos equipamentos e registro da qualificação da equipe. Checklists pré-operação, supervisão técnica presencial, monitoramento de vento e delimitação de áreas de exclusão também são essenciais para reduzir riscos”.
Questionada sobre erros ou negligências operacionais mais prováveis, ela aponta: “Falta de checklists, estabilizadores sem sapatas adequadas, equipe não treinada, ausência de responsável técnico, comunicação insuficiente, desrespeito à tabela de carga do fabricante e operação em condições climáticas inadequadas são fatores que costumam contribuir para acidentes”.
Lizandra também recomenda tecnologias e procedimentos modernos para aumentar a segurança: “Indicadores de momento de carga (LMI), sensores de pressão no solo, anemômetros com corte automático, câmeras de visão remota, drones e simulações digitais ajudam a reduzir incertezas e apoiar decisões técnicas durante a operação”.
Ela reforça a mensagem central para empresas e gestores de eventos: “Segurança não é custo, é condição essencial. Cada pessoa na cadeia, gestor, engenheiro, operador, rigger, sinalizador, tem papel decisivo. Responsabilidade compartilhada, comunicação clara e respeito às interrupções por risco salvam vidas e protegem patrimônio”.











