Virou vírus o vídeo de um motociclista voando a mais de 170 km/h no viaduto Rei Pelé. O desvario viraliza — e acende o alerta para o vazio que seduz parte da juventude amazônica. Quando a vida se transforma em conteúdo, o limite é só a próxima tragédia.
Juventude sem freio, sociedade sem horizonte
Uma moto. Um viaduto. Um velocímetro que dispara como a pulsação da adrenalina. E um celular que grava tudo — para likes, para fama efêmera, para a glória digital que dura menos que um suspiro. O vídeo, registrado no viaduto Rei Pelé, zona centro-sul de Manaus, mostra um jovem motociclista acelerando a mais de 170 km/h — em pleno espaço urbano. Não havia fuga, não havia urgência. Havia apenas um culto à velocidade e à visibilidade, como se o mundo fosse um palco de risco e a morte, um detalhe secundário.
O fascínio pelo nada
Essa juventude que avança sem capacete e sem rumo, muitas vezes sem estudo e sem emprego, é vítima de uma combinação explosiva:
- Ausência de perspectiva;
- Falta de políticas públicas reais para juventude periférica;
- E o bombardeio diário de conteúdos que glorificam a ostentação, o risco e o “seja famoso ou morra tentando”. É o jovem sem eira nem beira, encantado com a miragem da asneira. Quem aplaude também empurra e o mais assustador que o vídeo em si é a reação nas redes: emojis de riso, comentários exaltando a “coragem”, perfis dizendo “esse é brabo”. Brabo, Brother, é sobreviver com dignidade e propósito. Brabo é criar futuro, não desafiar o túmulo. Quando a sociedade passa a aplaudir a insanidade, ela também se torna cúmplice do luto.
O recado que ninguém dá
A tragédia anunciada se repete porque ninguém diz ao jovem que ele vale mais do que a moto. Porque falta educação emocional, formação cidadã, espaço de arte, esporte, cultura. Porque o tempo livre da juventude virou terra ocupada por algoritmos e delírios das telas. Se a única ambição da juventude é virar vídeo no WhatsApp da tia, então temos um buraco maior que o tédio, sem remédio.