Nem com nojo! : A Manaus que não queremos
Idealizada por Eduardo Ribeiro, um sonhador, que intentava transformar nossa cidade na “Paris dos Trópicos”, a Manaus da Belle Époque naufraga no mar do abandono, com mais de cem prédios históricos abandonados, alguns guardando a história da época da borracha, das damas, demoiseles e dos barões dos seringais que acendiam charutos com notas de dez mil réis. Parece manchete de jornal sensacionalista esse grande número de prédios abandonados no Centro, mas não é. No total são 116 edifícios que estão abandonados em Manaus. 103 deles só na área central da capital, segundo o Instituto Municipal de Planejamento Urbano, o Implurb. Seu irmão bastardo IPHAN coloca toda sorte de dificuldades para vender facilidades aos interessados em revitalizar nossa cidade. Assim a cidade e sua história vão virando ruínas.
Covil de bandidos
Essas pequenas joias espalhadas ao longo de todo Centro Histórico, contam o modus vivendi do amazonense daquela época, além de guardar grande riqueza arquitetônica no assoalho, nos forros, nas paredes, pinturas e portões de ferro. Um desses pode ser visto, por exemplo, na rua Simon Bolívar, bem ao lado da Praça da Saudade. O palacete 5 de Setembro foi construído por volta de 1908 como residência do primeiro presidente do banco amazonense. No local, também funcionou a Escola de Magistratura e serviu como gabinete do vice-governador… Atualmente está fechado e abandonado, servindo como boca de fumo.
Agindo (contra) nossa História
Riqueza arquitetônica também se vê em outro palacete localizado na Avenida Sete de Setembro. Construído pelo superintendente da Manáos Tramways & Light Company Limited, companhia que substituiu na operação dos bondes da capital outra empresa, a Manáos Railway, formada por capital inglês, cuja sede principal era em Londres, serviu anos depois como residência do ex-governador Gilberto Mestrinho. Apesar das cercas, o imóvel tem sido invadido e depredado por viciados, situação que gera insegurança.
Briga entre herdeiros
Abandonados, se transformam em local de usuários de drogas, onde o pessoal acaba invadindo até pra cometer crimes. Segundo a Prefeitura de Manaus, a maioria dos prédios abandonados é de propriedade particular. A responsabilidade de limpeza, manutenção e fechamento com muros ou cercas é dos proprietários. Tudo bem, mas cabe ao município a fiscalização para que os imóveis não sejam descaracterizados e a vistoria em caso de obras autorizadas. Obviamente que nestes casos o Poder Público não tem responsabilidade dentro de um imóvel privado. A responsabilidade – poder público federal e municipal – é do conjunto de regras. O que vai ser conservado, o que vai ser preservado e o que vai ser reabilitado para as novas funções sociais.
Prédios públicos também não escapam
Para o historiador Roger Peres, alguns motivos explicam a falta de manutenção por parte de alguns donos de imóveis históricos. “Tem questões de herdeiros, alguns imóveis realmente são fruto de alguma herança e os herdeiros às vezes se arrastam em brigas judiciais durante anos. Tem questões financeiras. As pessoas realmente não têm condições de arcar com o restauro. Eu falo de um restauro sério, técnico. Não é uma coisa realmente barata e quanto mais o imóvel fica deteriorado, mais oneroso ele se torna para se conseguir efetivamente uma recuperação como deve ser feita”, contou. Mas isso não atinge somente os prédios privados; os prédios públicos também sofrem com o abandono. É o caso da Escola Nilo Peçanha. Os sinais de vandalismo são visíveis no prédio. Outro prédio público abandonado é o da Escola Estadual Saldanha Marinho. A construção de 1901 é tombada como monumento histórico do estado, mas sofre com a depredação e o abandono.
Penitenciária pagando penitência
Prédios como o da Penitenciária Central, na Avenida Sete de Setembro cuja promessa de se tornar um museu vem se arrastando administração após administração, e que está para ser invadido por criminosos para vender drogas e cometer crimes – o que seria uma piada de mal gosto um prédio que antes abrigava bandidos servir de boca de fumo para bandidos – é outro exemplo. Outro prédio, o dos Correios, um primor de arquitetura, também é outro entre tantos que poderiam e deveriam estar sendo utilizados como museus ou casas de cultura. Cabe aos administradores visitarem algumas de cidades revitalizadas com urbanismo e economia no Nordeste, por indicação Recife, Fortaleza, Maceió e São Luís.
Fametro investe para salvar a Santa Casa
Para uma cidade cosmopolita como Manaus, que vem recebendo navios gigantescos de cruzeiros internacionais, o Centro da cidade não oferece nenhum atrativo, a não ser o já conhecido Teatro Amazonas e Palácio da Justiça. A Santa Casa de Misericórdia, por obra e graça do grupo empresarial Fametro, está sendo restaurada como era originalmente, mas o setor privado nem sempre vai comprar prédios abandonados no Centro, o que não aconteceria se houvesse uma administração municipal séria, que se preocupasse com a história de Manaus…mas parece que o IPHAN, órgão (in)responsável pela preservação e conservação da memória urbanística da nossa cidade fechou questão e não libera o prédio para as reformas. A troco de quê mesmo?
Foto: Divulgação