Opinião | Por: Moisés Dutra
A recente reeleição de Roberto Cidade à presidência da Assembleia Legislativa do Amazonas, mesmo após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que anulou sua eleição anterior, evidencia a força do chamado “coronelismo de barranco” adaptado aos dias atuais. Essa manobra política ilustra como o sistema de poder local, impulsionado por influências econômicas e pela articulação política, ainda predomina no Amazonas, em detrimento da vontade popular expressa nas urnas.
Cidade conseguiu ser reconduzido ao cargo mesmo enfrentando uma derrota significativa em Manaus no primeiro turno, onde ele e seu grupo político receberam um recado claro do eleitorado: a insatisfação com práticas políticas que parecem favorecer poucos em detrimento de muitos. Na eleição que se tornou uma das mais caras da história de Manaus, marcada pelo uso expressivo de recursos financeiros e o apoio de três esferas de poder, a população mostrou que está cansada desse tipo de política. No entanto, os deputados estaduais optaram por ignorar o recado das urnas e reconduziram Cidade à presidência em um processo considerado por muitos apressado e desprovido de ética.
A subserviência dos deputados estaduais a Roberto Cidade é vista como um problema que vai além das questões de legalidade e entra na esfera da moralidade e da decência no parlamento. Essa reeleição, marcada pela influência de um poder financeiro avassalador, não só reforça a posição de Cidade nos bastidores da política, mas também lança dúvidas sobre os limites da sua influência entre a população. A capacidade financeira, embora eficaz nos bastidores, pode não ser suficiente para consolidar apoio em cargos majoritários no Amazonas.
A recondução de Cidade à presidência da Assembleia Legislativa é um retrato das distorções de poder que ainda persistem na política regional. A correção desse cenário, no entanto, não depende apenas da população, mas também da postura e responsabilidade dos representantes eleitos nas casas legislativas. É essencial que parlamentares atuem de forma autônoma e independente, considerando as demandas e expectativas de seus eleitores para evitar que o coronelismo “moderno” continue a prevalecer na política amazonense.