Há três décadas o coveiro Lúcio Santos (nome trocado a pedido dele) se aposentou da profissão. Por muitos anos ele trabalhou no Cemitério Santa Helena, no São Raimundo, mas estava afastado há anos em tratamento psiquiátrico, de tanto ver coisas no cemitério que não deviam ser vistas.
“Comecei a trabalhar de coveiro e auxiliar do tanatopraxista, o profissional que prepara os cadáveres, e eu tinha acesso ao IML (Instituto Médico Legal). Parte do meu trabalho era recolher corpos após autópsias”. E foi nessa temporada, em 1985, que ele viveu sua primeira “situação estranha”.
“Estava acompanhando um enterro quando fui abordado por um jovem de 15 anos. Ele me falou: “A placa do túmulo caiu. Ninguém vai colar?”. Não era meu trabalho, mas quis ajudar e busquei a cola. Quando voltei, ele não estava mais lá”. A surpresa veio quando Santos olhou a foto na lápide e reconheceu o adolescente. “Era ele. Mas também quero acreditar que era um irmão gêmeo”.
Depois disso as “coisas estranhas” não pararam mais. “Outra vez fui surpreendido durante um procedimento de exumação de restos mortais enterrados havia 10 anos. Ele esperava encontrar uma ossada, mas encontrou um corpo intacto.
“Levei um susto. Parecia que o cara tinha sido enterrado no dia anterior, foi uma loucura aquilo para mim”. Não foi o único susto: durante um velório, um corpo se mexeu dentro do caixão. “A filha foi tocar o corpo e ainda estava quente. Ela começou a gritar dizendo que o pai estava vivo. Mas a polícia chegou e viu que não tinha pulso. Foi bem estranho. As pessoas têm medo de mim”, disse ele, tomando um gole de café.
Mas o ápice mesmo foi quando Santos ficou trancado à noite no necrotério. Ele conta que fez uma coisa horrível que nunca deveria ter feito. “Chegou o defunto de um velho muito magro pela manhã e como o tanatopraxista não foi trabalhar pois estava doente e ninguém tinha coragem de preparar o defunto. Como me pagaram muito bem eu aceitei a missão.
Fiquei sozinho com o defunto e quando fui ajeitá-lo no caixão não deu para ele entrar. O caixão era menor e o tornozelo e o pé dele passavam do caixão. Como já estava fedendo e muito rígido, eu não pensei duas vezes: peguei a serra de ossos e serrei ambos os tornozelos dele, em seguida agasalhando no caixão e lacrando, pois ninguém mais ia abrir, então ninguém descobriria”, contou.
Santos disse que foi embora para casa, quando por volta da meia noite lembrou que tinha deixado a chave geral do necrotério desligada. “Tive que voltar lá pois era proibido deixar o necrotério apagado. Ao chegar lá, vi que tinha esquecido a chave da porta em casa e começou a chover. Para não perder a viagem, pulei por uma basculante que tinha quase na base do teto e entrei.
Tudo escuro, liguei as lâmpadas e estava tudo normal. Quando subi em um banco e pulei na basculante para pular de volta, as luzes se apagaram. Nesse instante ouvi um gemido bem alto. Os relâmpagos e o barulho da chuva forte tornavam tudo mais assustador ainda. Tomei impulso e me ergui para cima, quando senti duas garras agarraremm meus tornozelos e me puxarem para baixo”.
Santos disse que no desespero reuniu todas suas forças, enquanto as garras foram penetrando em seus tornozelos, dilacerado nervos e tendões. O medo era maior do que a dor até que ele conseguiu se soltar das garras que o puxavam e passou pela abertura, caindo sangrando no barro molhado. Sem poder andar, ele saiu rastejando pela lama até chegar na entrada e gritar por socorro. Gritou, gritou e ninguém ouviu até desmaiar de tanta dor.
“Acordei dois dias depois na UTI. Minha família me disse que me encontraram caído de manhã, quase morto e meus tornozelos haviam gangrenado. O médico teve que cortar meus dois pés, justamente na mesma altura onde cortei os tornozelos do defunto.
Depois disso, Santos começou a variar e ver o velho dentro de casa e em plena luz do dia. “Ninguém acreditou em mim e disseram que eu estava doido, mas sei que é o velho que voltou pra me assombrar”, concluiu.