Manaus ficou marcada por bandidos como Sapeca, Nego Angola e Cabeção, mas a história tentou apagar Abílio e sua gangue, que era tão temido, que os citados acima assaltavam taxistas e postos de gasolina em todo canto, menos na Chapada, onde Abílio reinava.
Maltratado pelo padrasto quando criança, Abílio jurou que viraria bandido quando a mãe morresse, promessa cumprida à risca após o féretro da velha. Só temia uma coisa desde criança quando seu padrasto o assombrava: a Morta de Branco.
Ela costumava aparecer no Igarapé dos Pratas, uma extensão do Igarapé do Franco que viria a ser a Vila da Prata. Um tal de Banho dos Cornos, uma área de mato na área do Igarapé dos Pratas era evitado por todos, principalmente nas noites de lua cheia onde a Morta aparecia.
Era o último empecilho para Abílio não ter medo de nada…e ele foi lá enfrentar seu próprio medo. Como a lua ainda não tinha aparecido, Abílio entrou no Siloé, um sítio de propriedade da professora aposentada, Garcinéia do Lago e Silva, a “Iéié”, uma espécie de chácara muito grande, no Santo Antônio, perto da atual Avenida Brasil, que só tinha um vigia, o “Vovanilo”, que dormia mais do que porco da mão branca.
Cansado, Abílio deitou na grama e dormiu, quando foi despertado por uma estranha luz. Quando abriu os olhos, o bandidão viu o que mais temia: a Morta de Branco, pairando acima do chão, etérea, maligna. Ele quis falar, mas a voz não saiu…só ouviu ela dizer que aquele era o último ato da vida dele, com o rosto, antes belo, virando uma caveira.
Lutando contra o terror e a paralisia do medo, ele conseguiu se levantar e correr, numa carreira desembestada, varando pelo Jardim dos Barés e saindo onde hoje é o Shopping Milênio, até chegar em casa, sem fala e desorientado. No outro dia, ele saiu para assaltar, para provar que tudo tinha sido uma ilusão. Foi seu último ato.
Morreu crivado com mais de duzentas balas, encurralado numa casinha de um cômodo só, na Cachoeirinha. Sua companheira, Rosária, escapou com 3 tiros pelo corpo dos quais um a deixou deficiente de um pé pelo resto da vida.
A Morta de Branco, dizem, ainda aparece nas noites de Lua Cheia, agora perto do Porto da Estanave, já tendo aparecido em abril, na Semana Santa, e tendo espantado vários vasos de uma igreja evangélica que estavam lá fazendo uma vigília abençoada.