A pequena ilha, que é ligada por uma fina faixa de terra à povoação, fica no Igarapeaçu, em Novo Airão, e pertence ao ex-vereador Robertinho, só que ninguém vai lá, nem ele mesmo tem coragem de ir lá. Ele já a adquiriu com uma pequena casa de madeira e frutas, muita fruta, mas tomadas pelo mato. Mari-mari, uxí-coroa, cupuaçu, abacaxi, tudo tem lá, mas ninguém pega. As canoas passam do outro lado e, geralmente, seus ocupantes olham para a outra margem do igarapé, para onde está a casa do velho Pilão.
Antes não era assim, até o Dia dos Finados de 1997, quando uma família veio de Manaus para cá, passar o feriado. Sou o Josino, produtor cinematográfico e estou no o local, fugindo da fumaça e do calor de Manaus, e também esperando o Dia dos Finados para ver o que dizem que acontece na Ilha.
Segundo me contou Adamor da Silva, conhecido como “Sêo Bacharel” e morador antigo daqui, era cerca de oito horas da noite quando a família passou na canoa, indo para a comunidade de Nova Esperança para a missa dos finados.
Eram cinco adultos na canoa e uma menininha de 9 anos. Ao passar pela frente da casa, a garotinha disse, apontando para a casa: “Papai, vamos encostar um pouco ali para participar da festa. Já vão cantar o parabéns e a menina que está aniversariando, está me chamando”. Os pais da pequena, é claro, disseram que lá não havia ninguém e estava tudo escuro, mas a menina insistia em dizer que havia uma festa, fogueira acesa e muita gente dançando e assando churrasco.
Desesperados, os pais da menina a agarraram, mas ela estava tão decidida que deu um safanão na mãe e pulou dentro do rio. A noite escura e sem luar, junto com as águas do rio Negro que são pretas, encobriu a menina, que não boiou mais. Os pais, aflitos, foram até a comunidade e pediram socorro e logo um batalhão de homens se dispôs a ir lá.
Levaram “silibrina’ (um holofote ligado em uma bateria de carro) mas ninguém a encontrou. Como o rio estava seco e podia se atravessar a vau de um lado para o outro, não dava para ela ter desaparecido como por encanto. Os moradores disseram que foi o “Encantado”, que a levou, um parente do Noratinho, que vira sucuri e anda por lá no mês de novembro.
Este foi só o primeiro desaparecimento. De lá pra cá, todo Dia dos Finados desaparece alguém. Dizem que uma família morou lá mas sumiu sem deixar vestígios, talvez fossem os fantasmas dessa família que a menina viu. Por isso vim pra cá, equipado com drone e câmera de raio Gama, pra gente enxergar no escuro, para tentar desvendar este mistério, só que vou sozinho pois ninguém daqui, nem pagando, tem coragem de me acompanhar.
Josino Bentes Façanha