A história que vou contar aconteceu realmente. Sou a Emily, do Parque 10, tenho 27 anos, e juro por tudo que essa história é verdadeira. É difícil contar sem arrepiar. Mas, como dizem, às vezes o destino tenta nos avisar… e a gente insiste em ignorar. Eu namorava o Rogério fazia pouco mais de um ano. Um homem charmoso, simpático, aparentemente trabalhador. Ficamos noivos e marcamos o casamento para o dia 7 de julho de 2023. Eu estava radiante. Queria fazer uma surpresa: comprar as alianças sozinha e mostrar a ele que nosso amor valia cada esforço. No centro da cidade, na Joaquim Nabuco, acabei entrando em uma lojinha bem antiga, daquelas cheias de quinquilharias de outras épocas. Cheirava a madeira envelhecida e incenso. O dona era um ancião, saido de um filme de Harry Potter, com roupas velhas e estranhas, olhos atentos, com um ar de quem já viu muita coisa nessa vida. O nome dele era Jean de Notre Damme. Nome estranho, mas o mais estranho é que passei mil vezes ali naquela rua, pois morava em uma kitinete em uma vila no começo da Tarumã, e nunca tinha visto a lojinha.
Fui direto ao balcão de alianças. Ele me atendeu com gentileza e paciência, e depois de muito escolher, perguntei o preço. Ele respondeu com firmeza: “Setenta reais cada uma. Setenta e sete o par, se levar agora’, respondeu. Na hora, achei até barato demais, mas me empolguei. Paguei em dinheiro. Ele, então, perguntou: – E quando vai ser o casamento, minha filha? – Dia 7 de julho – respondi, com um sorriso largo. Assim que falei, o rosto dele empalideceu. Ele cambaleou para trás e quase desmaiou. Corri para segurá-lo. Não havia ninguém mais na loja. Só nós dois. Ajudei-o a sentar, peguei um copo d’água que ele mesmo apontou. Enquanto ele se recuperava, um silêncio estranho encheu o ambiente. E então, com uma voz grave, mais fria do que antes, ele me disse algo que gelou minha espinha: — Minha filha… você precisa me ouvir. O que eu vi em você é grave. Muito grave. A sua vida está à beira de uma tragédia. Fiquei assustada. Ele continuou: — Eu tenho o dom de ver além. E tudo em você está marcado com o número 7. As alianças custaram 77. Você vai casar no dia 7 do mês 7. E o ano… 2+0+2+3… também dá 7. Isso não é coincidência. O sete é sagrado, mas quando se repete demais, ele cobra. E no seu caso, cobra com sangue. Ele disse que meu casamento “não passaria de 7 dias”. Que um mal estava me rondando. Que alguém estava me enganando.
— O amor cega, minha filha. Mas os olhos da alma não mentem. Você precisa se afastar desse homem. Agradeci, claro. Mas confesso que saí de lá balançada e ao mesmo tempo cética. Sou teimosa. Não quis acreditar.bNo dia 7 de julho, me casei. Foi tudo simples, mas lindo. Amigos, flores, bolo, música… e um sorriso falso do homem que dizia me amar. Mas ,exatamente sete dias depois, tudo desmoronou. Recebi mensagens anônimas, fotos…descobri que ele me traía com duas colegas do trabalho. E não parava por aí. Pesquisando mais, descobri que ele já tinha sido casado. Três vezes. Tinha filhos escondidos. E o pior: ele era um golpista. Seduzia mulheres, se casava, exigia comunhão de bens, e depois…desaparecia com tudo o que pudesse levar.
Senti o chão sumir. Lembrei do velho. Fui até a loja chorando, tremendo, desesperada. Ele me recebeu como se já esperasse por mim. Me deu água com açúcar. Me abraçou. Ficamos horas conversando. — O plano dele era ainda pior — disse ele, com os olhos marejados. — Ele queria te levar pra uma praia, te afogar, e dizer pra polícia que foi acidente. Tudo pra ficar com aquele seu carro velho. Você escapou por muito pouco. Eu tremia de medo. Lembrei que ele tinha insistido muito em casar com comunhão total de bens, mas eu não aceitei. Talvez, por instinto. Ou por sorte. Entrei com o pedido de separação na justiça. Nunca mais quis vê-lo.Pedi à ele que fizesse algo para que ele sumisse da minha vida para sempre. Ele preparou uma oração, acendeu velas, falou palavras que eu não entendi, e me pediu fé.
Duas semanas depois… a notícia chegou. Rogério foi encontrado morto. Afogado. Vestia apenas uma sunga. Sozinho. A polícia disse que foi um acidente. Mas eu sei. O destino não erra. Voltei à loja para contar tudo à ele, a loja não existia mais. No lugar havia um prédio moderno…perguntei pela loja e as pessoas pensaram que eu estava doida, pois aquele prédio estava ali há mais de 20 anos.