Em circunstâncias normais, o corpo humano se decompõe antes do 100º dia de morte. Passado um século, apenas os dentes devem permanecer preservados. No entanto, determinadas condições podem tornar esse processo muito lento. É exatamente isso que explica o mistério dos corpos extremamente preservados que foram encontrados em um pântano no Reino Unido, mais especificamente em uma região no noroeste da Inglaterra.
A história dos corpos preservados praticamente intactos por mais de 2 mil anos começa em 1983. Naquele ano, trabalhadores coletavam turfa – material orgânico composto pela decomposição de vegetais e muito usado na jardinagem – no pântano de Lindow Moss.
No dia 13 de maio, um desses trabalhadores avistou o que parecia ser uma bola de futebol de couro, mas, ao olhar com atenção para o objeto, percebeu se tratar de uma cabeça humana. Inclusive, o globo ocular ainda estava lá. Mais de um ano depois, em agosto de 1984, outro trabalhador encontrou, dessa vez, corpo inteiro no pântano. Havia sinais de violência no cadáver, incluindo evidências de traumatismo craniano e estrangulamento.
Nos dois casos, a polícia foi chamada ao local da descoberta para a investigação. Inicialmente, pensou-se ser um crime, mas, em investigações mais detalhadas no laboratório, cientistas atestaram que os corpos tinham por volta de 2 mil anos. Nos exames, foi feita a datação por radiocarbono para estimar a idade.
Em parceria com o British Museum, o Google Arts disponibilizou imagens dos corpos preservados. De acordo com a plataforma, a cabeça encontrada, inicialmente, foi apelidada de Lindow I. Já o corpo completo recebeu o nome de Lindow II. Posteriormente, outros dois fragmentos humanos foram identificados: um corpo sem cabeça fragmentado (Lindow III); e uma parte superior da coxa de um homem adulto (Lindow IV) que, como foi encontrado próximo ao Homem de Lindow, podem ser os restos de sua perna perdida.
A história do pântano de Lindow Moss
Afinal, o que o solo do pântano inglês tem de tão especial para preservar corpos humanos por 2 mil anos? Para entender essa resposta, é preciso voltar alguns milênios no tempo. Durante a última era do gelo – há cerca de 11 mil anos -, o derretimento formou um pântano no noroeste da Inglaterra, o Lindow Moss. Hoje, a região ainda é ocupada por bosques, arbustos, musgos e, provavelmente, outros cadáveres humanos.
Nesse ambiente rico em matéria orgânica em decomposição (turfa), é comum a presença de alguns tipos específicos de musgos, como os do gênero Sphagnum. Quando este tipo de musgo se acumula em quantidades significativas, as camadas de turfa formam ácidos que são muito eficientes na preservação de corpos.
Fonte: Canal Tech