Olá, meus amigos. Sou o Ronaldo Pacheco; sou de Cacoal, em Rondônia, mas moro há muitos anos em Manaus. Cheguei aqui ainda na Década de 70, e fui morar no bairro de São Francisco. Já fazia dois meses que havia chegado aqui e nada de encontrar trabalho. O pouco dinheiro que havia trazido,diminuía com o passar dos dias, e o que restava mal dava para comer e pagar por mais um mês no quarto onde eu estava morando.
Porém, numa certa manhã tudo mudou. Conversando com meu vizinho que morava no quarto ao lado, ele disse que trabalhava como coveiro e que podia arranjar um emprego pra mim, pois estavam precisando de um vigia no cemitério. Ele disse que o emprego era para contratação imediata e não necessitava experiência. Eu aceitei e na outra noite comecei a trabalhar.
Segundo o administrador, às dez da noite o necrotério era fechado, todos os funcionários saiam e ninguém era permitido entrar até o final do meu turno as seis da manhã, quando um outro vigia chegava. Naquele instante eu quase mudei de ideia com relação ao trabalho, pois ficar sozinho naquele lugar, com certeza não estava em meus planos.
O administrador se despediu e antes de eu fechar a porta às suas costas, ele disse que eu podia passar a noite no escritório ao lado da recepção, onde havia deixado uma lista de instruções que eu devia ler e seguir. Depois de fechar e acorrentar a porta, saí à procura do escritório, e ali fiquei um bom tempo lendo e relendo as instruções que mais pareciam uma brincadeira de mau gosto.
Primeira – mantenha as portas da frente e dos fundos trancadas e acorrentadas durante todo o turno, ninguém é permitido entrar e muito menos sair.
Segunda – não faça caso dos ruídos, vozes ou gritos, são coisas normais e passageiras.
Trrceira – nunca saia pelo edifício no escuro, a caixa de controle das luzes da recepção e dos corredores está localizada no escritório.
Quarta – jamais entre em uma repartição sem antes acender as luzes do lado de fora.
Quinta e última – mantenha a luz do escritório acesa todo o tempo, e para o teu próprio bem, não durma. Depois de ler e reler as instruções eu decidi dar uma olhada no edifício; acendi todas as luzes da recepção e saí. Tudo estava trancado e nada parecia fora do lugar. Eu voltei para o escritório e fiquei toda a noite com a luz acesa e com medo de dormir, mas graças a Deus a noite passou e nada assustador aconteceu.
Depois de duas semanas sem nada ver ou ouvir, eu já estava acostumado com o trabalho, e foi então que a convite do administrador, eu mudei para um pequeno quarto-cozinha nos fundos do edifício que durante muitos anos foi ocupado pelo antigo vigia. Daquele dia em diante eu passei por três situações que até hoje não sei explicar; três noites de terror que mudaram a minha maneira de crer, de pensar e, acima de tudo, de ser.
Primeira noite, dois meses depois…Enquanto comia em meu quarto por volta das duas da manhã, eu ouvi algo que me deixou super apavorado e sem saber o que fazer. A porta do elevador que ficava bem próximo da minha fechou e o elevador subiu. Eu fiquei de pé ao lado da minha porta espantado, medroso e imaginando quem havia chamado o elevador se eu era o único presente no edifício. Eu permaneci em total silêncio ouvindo e esperando para ver o que se passava, e poucos minutos depois o elevador voltou, a porta abriu e eu ouvi os passos no corredor.
Um passo, dois passos, três passos bem devagar, o quarto e último foi dado e parou bem pertinho da minha porta. Meu coração acelerava, meu corpo arrepiava dos pés a cabeça, de repente…-toc, toc, toc. Eu não tive coragem de abrir e muito menos perguntar quem era, continuei em silêncio em completo terror. Poucos segundos depois os passos afastaram, a porta do elevador fechou e o elevador subiu. Eu passei toda a noite sentado ao pé da porta e somente sai quando tive certeza que o vigia do dia havia chegado. Quem pegou o elevador e bateu na minha porta até hoje não sei.
Segunda noite, cinco meses depois…Naquela noite eu estava no escritório lendo um livro quando todas as luzes do recinto se apagaram. Depois de constatar que o apagão não era somente no necrotério, eu peguei uma lanterna e, ao sair do escritório e focar para a recepção, eu vi com pavor que todos os sofás estavam ocupados por pessoas com rostos cadávericos e olhos esbugalhados olhando na minha direção. Eu quase tive um ataque do coração; meu corpo esfriou de tal maneira que pensei que fosse desmaiar. E enquanto eu olhava apavorado para elas, que também me olhavam, a eletricidade voltou e todos desapareceram. Depois de alguns segundos tentando entender o que vi, fui até o meu quarto e passei toda a noite rezando com medo de outro apagão.
Terceira noite, seis meses depois…Era mais ou menos três ou três e meia da madrugada, eu estava em meu quarto comendo um sanduíche quando ouvi a risada de uma criança bem próximo da minha porta. Eu não podia acreditar, como já mencionei no início, depois das dez da noite eu era o único ser vivo naquele edifício. E ali fiquei escutando a risada da criança que parecia brincar bem do lado de fora do meu quarto. Aí bateu aquele pensamento, o que aquela criança tava fazendo sozinha num necrotério aquela hora?, não, não podia ser uma criança, e para aumentar ainda mais o meu pavor, -toc, toc, toc. Meu coração quase parou, coloquei meu sanduíche sobre a mesa e fui até a porta onde fiquei em silêncio apavorado e rezando. E outra vez a batida foi repetida. Eu afastei nas pontas dos pés, peguei a Bíblia e comecei a ler o Salmo 91 olhando para a porta. E para aumentar o meu pavor, “eu vou entrar” disse a criatura.
E pouco a pouco a maçaneta começou a girar, a porta abriu bem devagar, ninguém apareceu ou entrou e a porta voltou a fechar da mesma maneira bem devagarinho. Pensando que quem abriu a porta agora estava ali dentro comigo, eu rezei ainda mais alto e com mais fervor até o outro vigia chegar.
Naquele mesmo dia peguei minha trouxa, pedi as contas e sai do emprego.