O fato aconteceu em 1977, véspera do que hoje se comemorava o Dia das Bruxas, quando o bairro de Santa Etelvina não passava de mata fechada e de algumas casas de madeira, separadas uma das outras e eu, Josinaldo Lopes, ia para as bandas de lá apanhar buriti. Apenas um ônibus fazia linha para lá e muitas vezes tínhamos que dormir por lá pois o ônibus do Tarumã só passava duas vezes por dia.
Era tudo mato, com muitas araras, tucanos e macacos. Nessa época, o Ibama não era tão rígido como agora, e a gente ainda podia matar uma paca ou um tatu, sem problema nenhum.
Lembro que eu, o Maurílio, o Renê e o Manelzinho fomos para lá de tarde e demos de cara com um velho estranho, com barbas longas, que disse que era melhor a gente voltar, pois como disse, “as bruxas estão soltas no mato” e ele mesmo disse que tinha visto um rebanho inteiro de queixadas, com olhos de fogo, seguindo umas velhas feias lá para o meio do mato.
Naquele tempo ninguém falava em festa do Halloween e quando se falava em bruxa, Matinta Pereira e Mapinguari, era pra valer mesmo. Não demos trela e nos embrenhamos no meio da mato. Armamos nossas redes bem alto, em dois pés de bacaba e ficamos esperando alguma paca aparecer, para levar junto com os buritis.
Era por volta de 11 horas da noite quando começou a ventar e ouvimos barulho de risadas e como se um forte vento passasse acima de nós. Não eram pássaros pois a sombra era como se fossem pessoas montadas em algo.
Não é possível que existam bruxas, pensei. E estiquei a mão para chamar o Manelzinho que cochilava, quando ouvimos o barulho infernal de cascos rasgando a mata e gritos como de porcos. Era uma multidão de queixadas, mas grandes como javalis, com grandes olhos de fogo e várias presas saindo por vários cantos da boca, espumando de raiva.
A velocidade deles era tão grande que o vento deslocado balançava nossas redes. Quando a manada passou, desatamos nossas redes e saímos correndo para a estrada que levava ao Rancho Fundo, um sítio da Igreja Católica, do outro lado da estrada. Tinha alguns jovens fazendo retiro lá e contamos a história. Ficamos por lá e pela manhã fomos ver o estrago que os queixadas tinham feito. Várias casas foram derrubadas e o terreno estava todo pisado; tinha até umas viaturas do Ibama por lá. Fomos embora andando até Novo Israel e nunca mais voltamos lá.
Muita gente não acredita em bruxas, mas nós vimos algo voando sobre nossas cabeças que não tem explicação.