Muito embora desde tempos imemoriais as histórias dos protetores das matas sejam conhecidas, poucas pessoas acreditam, mas só quem mora no interior sabe dos mistérios que a mata guarda. Na comunidade do Tumbira, no Rio Negro, perto de Manaus, é comum conversar com pessoas que já tiveram essa experiência sobrenatural nas matas do Amazonas e, pelo olhar, dá pra perceber o terror nos olhos, quando suas lembranças vêm à tona.
Foi o que aconteceu com Raimundo Antero Alves, 75 anos, um dos primeiros moradores da comunidade, que nasceu e cresceu em Tumbira. Ele contou que antigamente, quando era madeireiro junto com o pai, mais de uma vez foi espantado pelos seres da floresta. “Chegava a passar uma semana na mata cortando madeira”. O ribeirinho diz que viu e ouviu muita coisa. “Dizem que é curupira”. Ele relata sons de batida em troncos de árvores e muitos assobios estranhos à noite. “A gente levava cachorros para caçar porco, mas até eles ficavam com medo.”A mata é misteriosa, principalmente à noite”, comenta outro ex-madeireiro da comunidade ribeirinha de Tumbira, Roberto Brito, 46 anos.
Ele conta que, entre os sons que já ouviu, teve até gritos semelhantes ao de seres humanos. Para ele, tratava-se de uma perseguição da curupira por causa das agressões à natureza. “Mas ela foi muito paciente, como uma amiga que tenta avisar que você está fazendo algo errado”, comenta Brito. “Não é lenda, existe mesmo”, jura.
Ele relembra a história de um professor da Ufam, que foi até lá fazer uma pesquisa sobre esses seres elementais para uma tese de doutorado, mas que no fundo levava tudo para o terreno das lendas e crendices, já que o assunto principal do trabalho era, justamente, as lendas amazônicas. “A gente andava pelas trilhas e ouvíamos assobios e batidas nos troncos das árvores, mas sabíamos que não era humano pois conhecíamos todos os moradores de lá, mas ele não acreditava e até ria da gente”.
Segundo contou Roberto Brito para a reportagem do Maskate, um dia o estudo do doutor acabou e ele ia embora no outro dia. Como estava todo mundo ocupado, ele disse que iria sozinho pela trilha, que ele já conhecia bem. “Dissemos para ele não ir, porque o curupira estava com raiva dele, mas ele riu e foi assim mesmo. Passadas algumas horas, ele não voltou, ficamos preocupados e fomos atrás dele; o encontramos sentado em um toco de árvore, com a roupa roda suja e rasgada e visivelmente perturbado”, contou Brito.
Continuando, disse que ele foi levado para a cabana e ao chegar lá explicou que alguém havia dado uma rasteira nele, tendo perdido os óculos e, sem ver nada, levou uma surra sem saber de quem. “Foi o curupira”, disse sêo Inácio, antigo Soldado da Borracha, que viera do Acre para o Tumbira. “De manhã, vamos fazer uma oferenda para ele devolver seus óculos, doutor”, disse o velho.
Pela manhã, pegaram tabaco, uma garrafa de cachaça e colocaram na trilha, bem no lugar onde o doutor havia levado uma surra e foram embora.”De manhã voltamos lá. A cachaça e o tabaco tinham sumido, mas os óculos do doutor estavam lá, no pé do toco de árvore”, disse Brito. Ele conta, ainda, que o doutor foi embora no outro dia, com febre e todo doído da surra que levou, jurando que nunca mais voltava lá.