Durante três dias, Parintins, no interior do Amazonas, deixa de ser apenas uma cidade ribeirinha para se tornar o centro das atenções do Brasil. O Festival Folclórico, protagonizado pelos bois-bumbás Caprichoso e Garantido, transforma o município em um vibrante polo de cultura, turismo e economia criativa. O impacto, porém, vai muito além da arena.
Em 2025, o evento foi autorizado a captar R$ 14,2 milhões por meio da Lei Rouanet e já atraiu R$ 9,6 milhões em patrocínios privados. No ano anterior, mais de 120 mil visitantes circularam por Parintins, gerando uma movimentação econômica estimada em R$ 180 milhões. Esse valor impulsiona, principalmente, os setores de hospedagem, alimentação, transporte, comércio informal, vestuário e artesanato.
“É o nosso 13º salário”, resume Joana Lima, que trabalha como costureira em um dos galpões dos bois. “Passo meses costurando fantasias, e esse dinheiro sustenta minha família até o fim do ano.”
A economia criativa é, de fato, a alma do festival. Artistas, pintores, marceneiros, soldadores, músicos e bordadeiras unem forças para materializar um espetáculo que mobiliza o Brasil e encanta turistas do mundo inteiro. Mas, passada a euforia dos fogos de artifício e das arquibancadas lotadas, a cidade volta à realidade: um ritmo econômico mais lento e desafios de sustentabilidade financeira.
O pós-festival e o dilema da sazonalidade
A dependência de um único grande evento ao longo do ano escancara uma fragilidade da economia local. Após o festival, muitos trabalhadores temporários buscam outras fontes de renda. Pequenos negócios, que lucraram significativamente durante a festa, enfrentam quedas bruscas na demanda.
“Depois que todo mundo vai embora, as vendas caem quase 90%. A gente tenta segurar com o que guardou”, relata José Carlos, vendedor de bebidas que monta sua barraca na principal avenida de Parintins. Durante os dias de festa, o local vira um centro comercial a céu aberto, com barracas, ambulantes e lojas temporárias disputando cada metro da movimentada rua.
Mesmo com os excelentes índices de satisfação — segundo o Observatório de Turismo do Amazonas, 97% dos visitantes recomendariam o festival e 95% pretendem voltar —, o desafio é transformar esse potencial em desenvolvimento permanente.
Construindo um futuro para além de junho
Especialistas apontam que é possível estender o dinamismo econômico com políticas públicas e iniciativas privadas voltadas à valorização da cultura local durante todo o ano. Criar roteiros turísticos permanentes, oficinas criativas, museus interativos sobre o festival, mercados fixos de artesanato e experiências imersivas ligadas à floresta e à cultura ribeirinha são algumas das alternativas.
Além disso, o apoio contínuo a coletivos culturais e capacitações profissionais poderia gerar renda estável para centenas de trabalhadores da cadeia criativa.
“O Festival de Parintins não é só entretenimento — é política de Estado”, afirmou um representante do Ministério da Cultura. “É um ativo econômico e simbólico que precisa ser valorizado com inteligência e continuidade.”
Parintins como modelo de economia criativa
A permanência média dos turistas — de cinco a sete dias — garante ocupação máxima de hotéis e pousadas, movimenta o transporte aéreo e fluvial, estimula a gastronomia regional e aquece setores como o turismo de base comunitária, a logística de eventos e os serviços criativos.
O desafio, agora, é fazer com que os frutos dessa engrenagem não durem apenas três noites, mas alimentem a cidade durante os 12 meses do ano. Parintins já provou que cultura gera renda, autoestima e futuro. Cabe à sociedade e aos gestores garantir que essa potência não seja sazonal, mas estruturante.